Alexandre Black de Albuquerque

 

COREIA DO SUL E A COMPLEXIDADE ECONÔMICA: UM BREVE OLHAR


 

A Coreia do Sul foi formada em 1948 em função da divisão da península da Coreia. A influência da China na cultura é muito antiga e se intensificou com a ocupação de parte da península da Coreia em 108 A.C. Foi por essa época que se iniciou o período dos Três Reinos [57 A.C. – 668 D.C.], marcado por grande desenvolvimento cultural e, com a reunificação, em 668, o budismo teve grande impulso. A Coreia passou por um grande florescimento cultural e econômico na primeira metade do século XV, uma série de invasões de manchus e japoneses, no entanto, levaram o país a se fechar para o mundo externo e desenvolver uma economia baseada numa massa de camponeses e escravos, esses últimos, segundo OLIVEIRA [1997], chegaram a representar 30% da população, e a escravidão só foi abolida em 1894. No início do século XX a Coréia era um país relativamente pobre e atrasado, e seu território estava sendo disputado pela Russia e Japão, com a vitória nipônica na Guerra Russo-Japonesa, em 1905, a Coreia tornou-se protetorado do país asiático e, em 1910, foi transformada em colônia. Nos trinta e cinco anos seguintes vários movimentos antiimperialistas tomariam corpo, todos, no entanto, seriam reprimidos pelo Japão, no entanto, o imperialismo japonês construíria uma certa infraestrutura industrial e de transportes para apoiar seus planos expansionistas na Ásia, e que teriam alguma importância no processo de industrialização da Coreia do Sul da segunda metade do século XX. A libertação do país ocorreu ao fim da Segunda Guerra Mundial.

 

Após o conflito mundial o país foi dividido no paralelo 38, ficando o Norte sob influência da União Soviética e o Sul sob influência dos EUA. A porção sul, então, implementou uma agressiva política desenvolvimentista, com largo apoio norte americano nas décadas de 1950 e 60, focando a industrialização e a diversificação da economia. Ao fim da Guerra da Coreia [1950-53] o país alcançou altas taxas de crescimento econômico que durou até a crise asiática de 1997, após esse evento o crescimento econômico teve continuidade mas com menor intensidade, como demonstra o quadro 1:

 

Quadro 1

Crscimento econômico da Coreia do Sul 1950-2019

Período

Crescimento Médio

1950-1979

1980-1989

1990-1999

2000-2009

2010-2018

6,5%

8,8%

7,1%

4,7%

3,4%

Fonte: MASIERO [2002] até 1979, depois Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE.

 Logo o crescimento econômico médio da Coreia foi de elevados 6,2 a.a. (ao ano) por quase 70 anos, ou seja, a economia do país cresceu cerca de 60 vezes no período. Para obter tal resultado o país asiático investiu fortemente em educação, C&T [Ciência e Tecnologia], e contou com participação ativa do Estado em quase todos os setores da economia, como o financeiro, que por quase trinta anos foi um quase monopólio estatal. Desta forma o país desenvolveu um processo de graduação tecnológica que o fez passar, sucessivamente, da agricultura para a indústria intensiva em mão de obra entre as décadas de 1950 e 60, posteriormente, nas décadas de 1970 e 80, foi desenvolvida a indústria pesada, e da década de 1990 até o presente foi desenvolvida a indústria de alta tecnologia, ou seja, um aumento constante da complexidade econômica e da produtividade que teve forte impacto positivo na qualidade de vida da população.

 

Complexidade econômica como forma de desenvolvimento

A Coreia do Sul construiu um Estado desenvolvimentista como resposta ao atraso do país, rompendo, até certo ponto, com o liberalismo, foram implementadas políticas de industrialização tendo o Estado como incentivador desse processo, quando não como controlador, investidor e financiador, ou seja, como principal agente de uma política deliberada de desenvolvimento que contrariava aspectos vitais dos teóricos da economia clássica e neoclássica, sobretudo no que diz respeito à especialização produtiva em bens que teriam vantagens produtivas. Foi Johnson que parece ter popularizado pela primeira vez o termo “estado desenvolvimentista”. Ao estudar a experiência japonesa, esse autor estabeleceu várias características desse modelo de Estado:

 

“Segundo ele [Johnson], o Estado desenvolvimentista se caracteriza por [a] intervenção estatal através de políticas conscientes e consistentes que consagram o desenvolvimento econômico como primeira prioridade; [b] existência de uma burocracia estatal voltada a escolher os setores a serem priorizados e a execução dos programas de estimulo, com margem de atuação assegurada pelo sistema político; [c] criação de instituições financeiras e outras voltadas a viabilizar incentivos, como fiscais e orçamentários; [d] criação de agência [como o MITI – Ministery of International Trade and Industry do Japão] para planejar e implantar as políticas voltadas a incrementar a industrialização acelerada”. [FONSECA, 2015, p. 26].

 

Em outras palavras, o “Estado desenvolvimentista” estabelece um grupo de parâmetros que guiará sua atuação e objetivos concretos a serem alcançados num horizonte de tempo mais ou menos determinado, sempre tendo em vista a industrialização e a mudança do perfil das exportações, de forma a tentar superar o subdesenvolvimento e todos os problemas decorrentes dele, como pobreza generalizada, dependência financeira e tecnológica dos países centrais, forte concentração de renda, etc.

 

Antes, na década de 1950, no entanto, surgia na América Latina, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe – CEPAL, afirmando que a economia do laissez-faire provavelmente não seria capaz de atender aos desejos de desenvolvimento que estavam então em voga na periferia do capitalismo, e mais, afirmando que apenas a industrialização e suas consequências – como aumento da produtividade e diversificação da economia, além da possibilidade de modificar a inserção na divisão internacional do trabalho – seria capaz de promover o desenvolvimento de nações periféricas, ou seja, países pobres não poderiam ficar ricos se continuassem a produzir e exportar apenas produtos primários. Mais recentemente a “Teoria da Complexidade Econômica” desenvolvida por Hidalgo & Hausmann, entre outros, apoiada no Big Data, parece confirmar a tese cepalina da necessidade de se aumentar a complexidade econômica de um país para se alcançar o desenvolvimento.

 

Segundo os cepalinos, quando um país engendra um processo de substituição de importações, necessariamente esse início de desenvolvimento industrial terá como alavanca setores intensivos em mão de obra, com pouca complexidade, e, apesar de substituir importações, também aumentará, e de forma exponencial, as importações, pois bens mais complexos, como maquinário industrial e químicos, por exemplo, não são possíveis de serem produzidos internamente no início do processo, seja pelo diminuto tamanho inicial do mercado, falta de capital e/ou tecnologia ou todos esses fatores somados. Desta forma esse país incorrerá em déficit na balança comercial que dificilmente serão possíveis de serem financiados, acarretando no estrangulamento da substituição de importações. Para que isso não ocorra, faz necessário que se tenha uma mudança num período de tempo não muito longo da estrutura das exportações, que devem evoluir de bens primários para bens indústrias de maior valor agregado, o que, além de limitar os efeitos deletérios do aumento das importações, também concorre para aumentar a escala de produção, favorecendo a competitividade econômica desse país. No entanto, modificar a forma de inserção de um país periférico no mercado internacional não é uma tarefa trivial, pois quanto mais complexo é um ramo produtivo, maiores são as barreiras de entrada que, segundo os cepalinos, para serem superadas, necessita-se da atuação do Estado como agente dinamizador do processo de industrialização:

 

“O desequilíbrio externo, inerente ao processo espontâneo de industrialização da periferia é explicado em função dos comportamentos recém-considerados. Por um lado, concorre a relativa lentidão com que suas exportações se expandem. Por outro, incidem o padrão de transformação industrial e as desvantagens que lhe são próprias, em matéria de geração e incorporação de tecnologia. Este padrão gera aumentos consideráveis da demanda de importações, necessárias para se dispor de bens situados “mais atrás” na cadeia produtiva, que não podem ser produzidos internamente [em particular, os bens de capital, portadores de tecnologia]”. [RODRÍGUEZ, 2009, p. 90].

 

Logo se faz necessário a ação do Estado como formulador de políticas de desenvolvimento, investindo em ramos não acessíveis por certas razões, em geral financeira, ao capital privado local, e estabelecendo uma política externa que também leve em conta as necessidades de moeda forte para realizar as necessárias importações que perpetuarão o processo de acumulação industrial. Mesmo que um país periférico implemente uma política desenvolvimentista que leve em conta os fatores acima citados, não significa garantia de sucesso, pois a capacidade de alocar bens de maior valor agregado no mercado internacional continuará limitada, dado a intensa concorrência com países centrais que dominam as cadeias produtivas internacionais, e, mais recentemente, com países semiperiféricos que substituíram as nações desenvolvidas em diversos ramos industriais menos complexo. Logo:

 

“Para preservar o equilíbrio da balança comercial, será preciso que as diferentes atividades cuja produção se destina ao mercado interno se expandam a ritmos tais que os graus de complementaridade intersetorial e integração vertical alcançados entre eles, somados à mudança na composição das importações [a oportuna redução de algumas delas, para fazer frente às necessidades de importação dos setores que se expandem], limitem o crescimento das importações globais ao ritmo em que crescem as exportações. Implicitamente, se requer, além disso, que a oferta de bens – em parte originada nas atividades internas e em parte composta por importações – se adapte às mudanças na estrutura da demanda que acompanham a industrialização e o desenvolvimento da economia periférica”. [Idem, p. 102].

 

Para que esse aumento da complexidade econômica ocorra sem que eventuais restrições na balança comercial ponha o desenvolvimento em risco, é necessário que as exportações de bens industriais aumentem acima das importações, pois, pressupõe-se que um país em início de industrialização tem as exportações baseadas em alguns bens primários que, em geral, possuem baixa elasticidade renda da demanda e alta elasticidade preço, portanto, haverá pouca probabilidade de aumentar o quantum exportado sem que ocorra redução do preço, logo são as exportações de bens industriais, que, em algum momento, terão que fornecer as divisas internacionais e a dinâmica econômica para sustentabilidade do crescimento, e neste ponto o “ATLAS DA COMPLEXIDADE ECONÔMICA” demonstra que há uma forte relação entre desenvolvimento e complexidade dos bens exportados, quanto maior for a complexidade desses bens, maior será o desenvolvimento:

 

“Segundo essa abordagem, uma economia é desenvolvida quando possui um grande número de capacidades produtivas, que por sua vez permitem que essa economia produza um grande número de bens de elevada complexidade. Mais do que isso, o número de capacidades existentes na cadeia de produção não determina apenas a complexidade produtiva atual do país, mas determina também o número e a complexidade dos bens que podem ser produzidos no futuro, haja vista que as capacidades futuras dependem das capacidades atuais”. [ALENCAR et al, 2018, p. 248].

 

O impacto das exportações no crescimento econômico, no longo prazo, parece depender da estrutura dessas exportações:

 

“A ‘eficiência em crescimento’ no comércio prescreve que as exportações de um país tenderão a crescer tanto mais rápida e firmemente quanto mais elevados os seus coeficientes de elasticidade-renda, e que o padrão de especialização no comércio será tão mais eficiente quanto maior a participação relativa de exportações de elevada elasticidade-renda da demanda internacional. E então afirmada a hipótese de uma interação positiva entre expansão das exportações e crescimento econômico, assumindo-se que uma estrutura exportadora de caráter market-dynamic pode favorecer maiores taxas de crescimento econômico, permitindo com isto, inclusive, um deslocamento “para frente” da restrição ao crescimento imposta pelo desequilíbrio do balanço de pagamentos; mesmo na hipótese de uma elevação do coeficiente de importações induzida pelo crescimento da renda real”. [MARTINS, 2015, p. 292].

 

Ou seja, quanto maior o valor agregado os bens exportados tiverem maior será o impacto no crescimento econômico, resulta-se disso que bens intensivos em tecnologia, e, portanto, com maior agregação de valor, contribuem de forma mais decisiva para o desenvolvimento, enquanto bens primários contribuem menos, pois além de menor valor agregado dispõe de baixa elasticidade da demanda internacional.

 

Transformação produtiva da Coreia do sul

A Coreia do Sul é um dos poucos casos onde o Estado desenvolvimentista deu certo, partindo de uma base fundamentalmente agrária no final da década de 1940, se tornou um dos líderes mundiais da indústria de alta tecnologia do século XXI. Mesmo tendo passado por um dos mais destrutivos conflitos do pós Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia, que destruiu parte significativa da infraestrutura do país. A década de 1950 foi marcada pela reforma agrária que, além de distribuir renda, possibilitou implementar uma política de transferência de renda do setor agrícola para o industrial, pois o fim do poder dos latifundiários permitiu que o governo passasse a monopolizar a compra e venda de alimentos, e ele impôs preços baixos aos agricultores e também vendia a preços baixos nas cidades o que permitia manter baixos os salários dos operários aumentando os lucros da indústria, esse lucro era reinvestido na produção, amplificando o crescimento industrial. Os anos de 1950 também assistiram ao início do investimento em educação, que no longo prazo, seria de vital importância para a continuidade do desenvolvimento da Coreia, e em C&T. No entanto, nessa década, o governo e o setor privado concentraram suas ações no desenvolvimento da indústria leve intensiva em mão de obra, o que não poderia ser diferente dada a, então, baixa acumulação de capital e a falta de Know-how. A capacidade de investimento era tão baixa que sem a ajuda dos EUA dificilmente o país teria alcançado os objetivos inicias de desenvolvimento, de fato, nessa década a ajuda norte americana ficou ao redor de 16% do PIB a.a. e representou mais de 70% das importações e mais 99% dos investimentos com capital estrangeiro [CHUNG, 2007].

 

A década de 1960 foi marcada pela redução do apoio dos EUA [4,7% a.a.][idem], que já não era tão necessário, pelo início do esforço exportador e pelos primeiros investimentos de vulto na indústria pesada. No entanto foram os investimentos da década anterior que possibilitaram a onda exportadora, de fato, a indústria intensiva em mão de obra liderou a evolução das exportações nos anos de 1960, que pularam de 53,4 milhões de dólares em 1962 para 805 milhões em 1970 [ATLAS OF ECONOMIC COMPLEXITY, 2020, para as estatísticas de exportação desse e do próximo parágrafo]. Mas também foi a década da criação da Pohang Iron and Steel Company Ltd. – POSCO, empresa siderúrgica que se tornaria uma das maiores produtoras de aço do mundo, marcando o começo do desenvolvimento de setores intensivos em capital. Foi também na década de 1960 que se iniciou a concentração de capital. O governo começou a organizar as empresas em conglomerados, os chaebols, que foram concentrando vários ramos de atividades, da produção de automóveis a navios, passando pela eletrônica e outros ramos. Essa concentração se baseou em incentivos fiscais, acesso a crédito barato entre outras vantagens, passando, em pouco tempo, a aglomerar boa parte da economia coreana. Apesar de obter vantagens competitivas em relação à economia de escala, no longo prazo os chaebols acumularam grande poder político, com resultados negativos para a democracia e, mesmo, para o desempenho econômico da Coreia do Sul.

 

As décadas de 1970 e 80 foram de ampliação e consolidação da indústria pesada, com especial atenção para a siderurgia, máquinas e equipamentos e a indústria automobilística. Também foi nesse período que começou uma importante mudança na estrutura das exportações. Em 1970 cerca de 80% do total exportado foi de semimanufaturados e manufaturados de baixo valor agregado, em 1990 a pauta exportadora já tinha forte presença de bens de alto valor agregado e de elevada complexidade, como carros, maquinários, eletroeletrônicos e computação, que já correspondiam por cerca de 40% das exportações, que, inclusive, tinham passado de 805 milhões de dólares para 64,2 bilhões de dólares, um aumento de 80 vezes, como termo de comparação, as exportações brasileiras no período passaram de 2,79 para 31,9 bilhões de dólares, ou seja, de três vezes e meia maior para menos da metade das da Coreia do Sul. Os últimos trinta anos foram marcados pelo forte desenvolvimento do setor de computação que tornou a Coreia um dos líderes mundiais dessa área, com empresas conhecidas mundialmente como a Samsung e LG, mas outros setores intensivos em capital continuaram suas trajetórias ascendentes e, em 2018, as exportações foram amplamente dominadas por bens de elevada complexidade, ou seja, de alto valor agregado produzidos por empresas de alta produtividade, de fato os setores químicos, maquinário, veículos e eletrônicos foram responsáveis por cerca de 80% do total exportado em 2018, ou cerca de 480 bilhões de dólares, demonstrado a profunda modificação pela qual passou a infraestrutura do país nos últimos setenta anos, de nação agrária, a nação industrial e tecnológica.

 

Conclusão

A Coreia do Sul, ao não respeitar os ditames do liberalismo como o livre comércio e o respeito às “vantagens competitivas” das nações, conseguiu deixar para trás a herança de subdesenvolvimento que marcava o país a menos de 70 anos. Nos dias atuais tornou-se um dos líderes mundiais da indústria de alta tecnologia, notadamente semicondutores, permitindo, com isso, melhorar substancialmente a qualidade de vida da população. Ao implementar uma política de desenvolvimento pautada no contínuo aumento da complexidade das cadeias produtivas, esse pequeno país asiático conseguiu chegar ao século XXI como referência em políticas públicas que tenham como objetivos a industrialização e o progresso social e matéria da população.

 

Referências

Alexandre Black de Albuquerque, Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco.

 

ALENCAR, Júlia F. L. & FREITAS, Elton & ROMERO, João P. & BRITTO, Gustavo. Complexidade Econômica e Desenvolvimento. Novos Estudos. CEBRAP, São Paulo. v. 37 n.02. 247-271. mai.–ago. 2018. [artigo]

ATLAS OF ECONOMIC COMPLEXITY. In: <https://atlas.cid.harvard.edu/ acesso em 09 de maio de 2020. [internet]

CHUNG, Young-Iob. South Korea in the Fast Lane: economic development and capital formation. Oxford University Press, New York, New York, 2007. [livro]

FONSECA, Pedro Cezar Dutra. Desenvolvimentismo: a construção do conceito. In: DATHEIN, Ricardo. Desenvolvimentismo: o conceito, as bases teóricas e as políticas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015. [capítulo de livro]

MARTINS, Marcilene. Padrões de Eficiência no Comércio: definições e implicações. In: DATHEIN, Ricardo. Desenvolvimentismo: o conceito, as bases teóricas e as políticas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015. [capítulo de livro]

MASIERO, Gilmar. A economia coreana: características estruturais. In: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. (Org.). Coréia: visões brasileiras. Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2002. p. 199-252. [capítulo de livro]

OLIVEIRA, Amaury Porto De. Os Coreanos na História Segundo Bruce Cumings. In: Revista brasileira de política internacional. Vol. 40, n.1. Brasília, Jan./Jun., 1997. p. 193-200. [artigo]

RODRÍGUEZ, Octavio. O estruturalismo latino-americano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. [livro]

 

12 comentários:

  1. Com vários exemplos de reformas agrárias que foram muito bem sucedidas, principalmente essa da Coreia do Sul que foi tão benéfica para o povo coreano e ocorreu há tão pouco tempo, acontecendo em um país do lado capitalista da Guerra Fria que rivalizava e era, e ainda é, comparado com o vizinho comunista do norte, mesmo com esse exemplo, por que você acha que no Brasil a questão da reforma agrária é um tabu tão grande?

    Luís Miguel Réus

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    1. Alexandre Black de Albuquerque

      Obrigado pela pergunta Luís. A classe dos latifundiários costuma ser politicamente poderosa em países com estrutura agrária muito concentrada, como é o caso do Brasil, além disso, existe a questão ideológica de grande parte da população referente a propriedade privada, considerada quase como sagrada inclusive por possíveis beneficiários da reforma agrária. Na questão da posse da terra estão incluídas relações de poder econômico, político e simbólico. O caso da Coreia do Sul é particular porque cerca de 40% das terras estavam em mãos dos japoneses, que haviam invadido e transformado a península da Coreia em uma colônia nipônica algumas décadas antes. Além disso a Coreia do Norte, de orientação socialista, havia feito a reforma agrária levando, inclusive, parte dos camponeses da Coreia do Sul a apoiar o norte durante a Guerra da Coreia, como consequência houve uma forte pressão para a redistribuição de terras como forma de legitimar o regime instalado no sul pelos EUA, que foram um dos atores a pressionar por essa redistribuição.

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  2. Excelente texto, mestre.
    Minha pergunta é com relação a um possível comparativo entre os diferentes resultados econômicos atingidos pela Coreia do Sul e o Brasil, no caso, sabemos que a Coreia do Sul passou por uma longa ditadura militar, assim como nós, e que também recebeu apoio direto dos EUA, contudo, se minha pergunta não for muito complicada, onde foi que o governo brasileiro errou? A Coreia do Sul se desenvolveu bem, enquanto nós nem tanto.

    Alessandro Henrique da Silva

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    1. Alexandre Black de Albuquerque6 de outubro de 2020 às 19:51

      Alexandre Black de Albuquerque

      Ótima pergunta Alessandro. Em termos gerais, e sendo absurdamente conciso, creio que foram quatro os principais fatores que diferenciaram a Coreia do Sul do Brasil: i) reforma agrária, que permitiu a redistribuição de renda e poder no país asiático, com efeitos pronunciadamente benéficos no desenvolvimento de um aparelho estatal tecnocrático; ii) pesado investimento em educação, favorecendo a formação de mão de obra qualificada; iii) forte investimento em ciência e tecnologia permitindo, no longo prazo, um bem sucedido processo de graduação tecnológica e iv) o desenvolvimento de empresas de capital nacional sul coreano em ramos intensivos em capital e tecnologia, que possibilitou que a Coreia do Sul se tornasse uma das principais plataformas exportadores de bens tecnológicos do mundo.

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  3. Boa Noite à Todos.
    O Texto mostra o ressurgimento de uma das Coreias depois de um período pós-guerra e e de dominação Japonesa e Chinesa.
    Alias Parabéns pelo texto Mestre Alexandre.
    Minha pergunta é se mesmo após a Queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria já ter se passado há algum tempo, décadas para ser mais exato, seria possível uma União das 2 Coreias e esse crescimento econômico ser ainda maior?
    Obrigado.
    Valmir da Silva Lima.

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    1. Alexandre Black de Albuquerque6 de outubro de 2020 às 19:52

      Alexandre Black de Albuquerque

      Boa noite Valmir. Não acredito que nesse momento tenha qualquer possibilidade de reunificação das Coreias por evidentes razões políticas, mas tão pouco acredito que a reunificação traria benefícios econômicos a porção sul da península, no longo prazo talvez nem a Coreia do Norte se beneficiasse tanto. Uma possível comparação é com a “reunificação” alemã, que terminou por se tornar uma espécie da anexação do lado oriental pela Alemanha Ocidental. Com a reunificação o crescimento econômico do lado ocidental não mudou consideravelmente enquanto a Alemanha Oriental teve forte crescimento, mas por um curto período de tempo, estando há cerca de vinte anos com a economia estagnada e tendo tido, inclusive, uma redução populacional de mais de 20% nos últimos 30 anos. No caso das Coreias nem a porção sul tem a capacidade econômica da antiga Alemanha Ocidental nem a porção norte da antiga Alemanha Oriental, o que tornaria ainda mais traumático o processo de reunificação.

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    2. Professor Muito Obrigado pelos esclarecimentos.
      Realmente uma pena que essa unificação não seja possível tendo em vista que na Alemanha mesmo com a ocidental "engolindo" a Oriental, de certa forma acabou por dar certo.
      Isso mostra que desde a Fim a Guerra Fria e mesmo após o Término, países que adotaram o Capitalismo tiveram um melhor frente aos que optaram pelo Socialismo Soviético. Esse estudo quase comprova a tese de que o Socialismo funcionou ou funciona dentro dos Territórios Russos.
      Valmir da Silva Lima.

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  4. Olá Alexandre. Gostaria de parabenizá-lo pelo texto. Na escola costuma-se ensinar esse crescimento econômico da Coréia do Sul em conjunto com os ditos "Tigres Asiáticos", segundo seus estudos, o que diferenciou a Coréia dos outros países desse grupo no período de melhora econômica para que hoje se tornasse uma dos países mais influentes economicamente e na área tecnológica?

    Augusto Agostini Tonelli

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    1. Alexandre Black de Albuquerque8 de outubro de 2020 às 16:46

      Alexandre Black de Albuquerque

      Olá Augusto, considero a existência de duas gerações de Tigres Asiáticos, a primeira, que surge nos anos de 1950, representada por Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong, e uma posterior representada por países como Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas. A primeira geração passou por profundas transformações estruturais – vale salientar que o crescimento econômico de Taiwan de 1950 até os dias atuais supera o da Coreia do Sul – que possibilitou um desenvolvimento sustentado por décadas e relativa autonomia econômica, mas não política, em relação aos países centrais, leia-se EUA. A segunda geração, que emergiu na década de 1970, não passou por modificações importantes na estrutura agrária ou do Estado, por exemplo, e em decorrência disso e outras razões, não desenvolveu empresas tecnológicas de capital nacional, de fato, seguem mais ou menos o padrão mexicano de montagem final de produtos com componentes importados, ou seja, há pouca agregação de valor em suas fronteiras até os dias atuais. A trajetória da Coreia do Sul e de Taiwan é semelhante, Hong Kong e Singapura também obtiveram resultados expressivos, mas por serem cidades estados o caminho não foi exatamente o mesmo e fica difícil uma comparação com os dois primeiros. Ou Seja, a primeira geração integra com mais ou menos proeminência as chamadas Cadeias Globais de Valores como fornecedores de componentes tecnológicos enquanto a segunda geração integra essas cadeias como montadores de bens finais ou produtores de bens de baixo valor agregado.

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  5. Obrigada pelo texto! Muito interessante e me fez rever meu mini curso sobre o Japão e Cultura Pop além dos Animes.

    Uma curiosidade: é possível considerarmos o soft power sul coreano inclusivo e no caso, por exemplo, a produção dos Doramas como um marco das maiores exportações como estratégia de nacional de national branding e que isso influenciou diretamente na economia? Sei que a Coreia do Norte também produz k-dramas com a característica deles próprios.

    Att, Camila Hoffmann.

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    1. Alexandre Black de Albuquerque9 de outubro de 2020 às 20:07

      Alexandre Black de Albuquerque

      Olá Camila, sua pergunta foge do escopo desse trabalho, mas tentarei responder. Seguramente os Doramas fazem parte do Soft Power coreano, na verdade toda a indústria cultural do país faz parte de uma estratégia de national branding. Foi após a crise asiática de 1997/8, de graves consequências para o país, que o governo coreano intensificou o apoio financeiro ao setor cultural como forma de gerar renda e emprego, incluindo forte auxílio às exportações desses produtos culturais. Com o inesperado sucesso dos Doramas na China o Estado coreano percebeu que poderia ser eficaz uma estratégia diplomática de aproximação com o gigante asiático que contemplasse o setor cultural e que terminaria por se expandir pelo mundo.

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