AS MULHERES ADEREM
À FORÇA DE TRABALHO: A REPRESENTAÇÃO FEMININA NOS PÔSTERES DE PROPAGANDA
CHINESES
Introdução
A China, desde muito tempo, tem solidificado suas tradições a partir dos ensinamentos confucionistas. Embora considera-se que o sistema patriarcal tenha se institucionalizado já durante o período Zhou (XI a.C.), foi a partir de Confúcio (VI e V a.C.) que o papel de subordinação da mulher se firmou na sociedade chinesa. Poesias confucianas datadas do século V a.C. já delimitavam a conduta que o indivíduo recém-nascido deveria seguir durante a vida, baseando-se em seu sexo. Nesse sistema social, a mulher não é reconhecida como um indivíduo autônomo, mas sim como parte de uma sociedade comunitária e, principalmente, membro de uma família, tornando-se um objeto do patrimônio familiar.
Conforme Badell [1996], estes princípios confucianos a respeito da dependência e da subordinação ao homem não se puseram nunca em discussão, exceto em momentos pontuais onde a inclusão da mulher se tornava um fruto de necessidade para a obtenção de seu apoio e força de trabalho. Com a decadência da última dinastia, já no final do século XIX, começam a aparecer as primeiras reivindicações feministas, facilitadas pelas mutações políticas, sociais e culturais do período e pela influência do Ocidente. A total ruptura do período imperial e a fundação da República da China, em 1911, foram palco dessa militância que visava uma mudança na estrutura familiar e social, priorizando a igualdade entre homens e mulheres.
Com a criação do Partido Comunista da China, em 1921, e a liderança de Mao Zedong, o tema também foi colocado em pauta. Mao queria modernizar uma China devastada por anos de guerra civil, invasões estrangeiras e decadência econômica, e sua política possuía um caráter anticonfucionista que visava romper com estas tradições milenares em nome da Revolução. Para isso, era imprescindível, além de apoiar-se na classe operária, conseguir a unidade e a educação do campo, submetendo homens e mulheres igualmente à causa socialista:
“Para a construção de uma grande sociedade socialista, é da máxima importância mobilizar as grandes massas de mulheres para que participem nas atividades de produção. Na produção, os homens e as mulheres devem receber um salário igual por trabalho igual. A verdadeira igualdade entre os dois sexos só pode se realizar no processo da transformação socialista do conjunto da sociedade” [MAO, 1955, p.144].
A adesão de mulheres urbanas ao PCC estava atrelada ao fato de o Partido ter adicionado reivindicações feministas em sua política; estas mulheres buscavam igualdade de gênero, autonomia e emancipação das estruturas familiares e maritais. Além disso:
“Todos elas também estão impregnadas de um forte sentimento patriótico que se intensificou progressivamente em função da fragilidade das instâncias políticas chinesas e da incessante apropriação dos territórios chineses por diversas potências estrangeiras”[FISAC BADELL, 1996, p.80, tradução nossa].
Entretanto, é importante elucidar a diferença entre essas jovens mulheres revolucionárias da cidade e as mulheres da zona rural, que estavam inseridas em outro estilo de vida, com preocupações distintas. Nas aldeias, o controle social exercido pelo poder patriarcal afetava a vida de uma mulher em todos os aspectos, de modo que estas só atingiriam uma vida estável caso fossem boas esposas e mães. Com isso, as demandas revolucionárias das mulheres urbanas em nada acrescentava à essas mulheres rurais, visto que para essas últimas era justamente o laço marital que as fazia adquirir uma existência minimamente digna. Dessa maneira, cabe afirmar que:
“As reivindicações eram possíveis nas grandes cidades, mas não nas pequenas aldeias [...] Se a tudo isso somarmos o fato de que, no imenso território chinês, a grande maioria da população pertencia ao meio rural, podemos imaginar as dificuldades e resistências com que foram realizadas todas essas tentativas reformistas”[FISAC BADELL, 1996, p.86, tradução nossa].
Nesse contexto, como
mobilizar o campesinato e a cidade em torno de uma causa em comum? Embora o
Partido tenha sido fundado em Xangai, Mao — tendo ele próprio raízes rurais —
reconhecia que devia voltar-se à força de trabalho do campo para obter êxito na
Revolução. Além de valer-se do sentimento patriótico que se mantinha
estabelecido entre os chineses, a política do PCC que favoreceu a adesão em
massa dos camponeses à Revolução foi a Reforma Agrária e a distribuição de
terras, que até então se concentrava na mão dos grandes senhores rurais. Com isto,
o encorajamento da mão-de-obra feminina se deu a partir de um encorajamento
para aumentar o número de trabalhadores nas áreas de cooperativização, visto
que a produção agrícola e industrial começou a crescer em ritmo exponencial.
Sobretudo na zona rural, as mulheres mantinham um papel mais ativo na produção
em relação às mulheres das cidades, principalmente por razões econômicas.
Entretanto, para Mao, era preciso fazer com que todas as mulheres capazes de
trabalhar participassem na frente de trabalho.
A Revolução Cultural e a
representação da mulher revolucionária nos pôsteres de propaganda
A partir da fundação da República Popular da China, em 1949, e durante toda a década de 50, o Partido Comunista modificou totalmente as estruturas urbanas e rurais da China, política e economicamente. A distribuição de terras aos camponeses e o aumento da produção industrial e agrícola em ritmo exorbitante deram lugar ao subsequente fracasso de algumas políticas mal planejadas e apressadas de Mao. Em razão disso, começaram a surgir divisões dentro de algumas alas do Partido, que intencionavam a revisão do rumo que a China estava tomando. Mao, então, numa política defensiva de acabar com o todo o “revisionismo” dentro do Partido e do território chinês, voltou-se ao culto de sua personalidade e à repreensão de qualquer manifestação cultural e política que ia contra seus dogmas. Esse período de censura ficou conhecido como Revolução Cultural, que fez a China mergulhar no caos e no medo entre os anos de 1966 e 1976. A partir disso, surgiu no país uma onda de revolucionários ferrenhos, sobretudo jovens, que aderiram fielmente aos ensinamentos maoístas e reprimiram qualquer coisa que fosse considerada “revisionista” e “antipartidária”.
Mao dispunha de alguns elementos para a propagação de suas políticas. O Diário do Povo, jornal oficial do Partido, servia como um importante porta-voz das políticas governamentais às massas. Os pôsteres, por sua vez, se caracterizavam pelo intenso apelo visual e pelo poder da rápida propagação de suas mensagens. Retratando de maneira heroica e idealista as políticas socialistas de Mao, os pôsteres eram utilizados para encorajar e atrair o povo à Revolução. No que diz respeito à representação de mulheres nos pôsteres de propaganda, observa-se uma nítida diferenciação entre as os períodos pré 1966 e a Revolução Cultural em seu apogeu.
A análise dessas três figuras, todas pré Revolução Cultural, nos permitem pensar acerca da representação da mulher e seu papel na China moderna. A figura 1 nos mostra uma jovem mulher camponesa numa plantação de arroz, com um corte de cabelo e roupas modernas; A figura 2 é representada por uma jovem mulher operando um trator; A figura 3 nos mostra uma mulher, mãe de três filhos e operária em alguma fábrica, após receber um prêmio de ‘trabalhadora modelo’. Nessas figuras pré Revolução Cultural, os pôsteres representam mulheres graciosas, com traços finos e delicados. A partir das três profissões apresentadas, agricultora, motorista de trator e operária, cabe analisar a representação romantizada destas atividades e seu contexto. Historicamente, as atividades agrícolas eram realizadas pelas mulheres camponesas, que tinham um papel relativamente ativo no campo. Com a Fundação da República Popular da China e as políticas de industrialização e coletivização, coube a essas mulheres exercerem também outras funções.
Como anteriormente mencionado, as mulheres do campo via de regra não se sentiam acolhidas pelas pautas feministas da primeira metade do século XX, porque estas acabariam por desagregar o único sistema que as mantinha com uma vida estável. Com o Partido Comunista e a República Popular da China, essas mulheres começaram a serem encorajadas a aderir ao coletivismo e à Revolução, e a participação em algumas alas, como no Exército da Libertação Popular, davam a estas mulheres uma oportunidade de romper com alguns dos vínculos opressivos pelos quais ainda estavam submissas.
A figura 3, a qual é
descrita como “a mother of three has received an award as 'model worker' in
her factory” (uma mãe de três filhos recebeu o prêmio de 'trabalhadora
modelo' em sua fábrica), mostra a romantização do acúmulo de tarefas que uma
mulher deve manter. A representação das três crianças, todas impecáveis, remete
ao papel da ‘boa mãe’, que ao mesmo tempo em que consegue dar conta do cuidado
aos filhos, também trabalha fora de casa e é considerada uma trabalhadora
modelo. A mensagem passada por esse pôster evidencia a dupla jornada que uma
mulher modelo deveria ter, sendo boa mãe (e esposa), e também uma trabalhadora
engajada na causa.
As figuras 4, 5 e 6 nos mostram mulheres trabalhadoras e revolucionárias. A partir dessas imagens, pode-se analisar a representação da mulher e o papel atribuído a ela durante a Revolução Cultural. Nesse contexto, as mulheres passaram a ser retratadas com traços mais agressivos, e seus corpos apresentam características mais ‘masculinas’. Enquanto os pôsteres pré Revolução ainda associam a mulher à agricultura e às tarefas domésticas, os pôsteres da Revolução Cultural majoritariamente retratam as mulheres em atividades historicamente masculinas. O diferente apelo visual entre esses dois contextos evidencia o papel revolucionário que a mulher era induzida a ter durante o período maoista de maior efervescência política.
O pôster da figura 4, “It is a revolutionary requirement to marry late” (casar tarde é um requisito revolucionário), foi publicado por um escritório governamental incumbido de fiscalizar o controle de natalidade de Wuhan. O relacionamento matrimonial, que durante séculos foi sinônimo de estabilidade, passa agora a ser secundário em relação à Revolução. Aos homens do Partido, caberia arranjar uma boa esposa para que esta servisse como bom exemplo da diligência e sucesso do marido em todos os âmbitos. Às mulheres envolvidas no Partido ou em atividades relacionadas, porém, era preferível e encorajado o relacionamento tardio. Além disso:
“Muitos casais são forçados a viver separados por um período de um a dez anos, e às vezes até mais. [...] A maioria dessas separações ocorre porque os cidadãos individuais não são livres para mudar de um lugar para outro ou para arriscar seus locais de trabalho. Onde uma pessoa vive e trabalha é determinado pelo governo, que pode designar um marido para trabalhar em uma cidade e uma esposa para trabalhar em outra. Espera-se que os parceiros separados "submetam interesses individuais aos interesses do Partido e do Estado".” [RUAN, 1991, p.167, tradução nossa]
Embora a figura 2 e a
figura 5 representem mulheres na mesma atividade, no pôster da Revolução
Cultural a mulher está retratada de modo muito mais masculinizado, reproduzindo
a tendência da época em encorajar as jovens mulheres ao trabalho pesado e
exigente. A última figura evidencia uma mulher operária cuja militância alcança
um patamar de liderança diante de suas colegas de trabalho. Atrás da figura
principal, pode-se ver várias outras mulheres operárias segurando o Livro
Vermelho de Mao, e as feições de todas elas dão a entender o caráter de sua
militância contra as classes capitalistas. Além disso, também há uma excessão
para a representação da beleza e da feminilidade na publicidade, que durante o
período da Revolução foi deixada de lado. O foco era apenas revolucionário, de
reafirmação da autoridade absoluta de Mao, de adesão às campanhas
antidireitistas e de “lutar até morrer pela Revolução Cultural Proletária”.
Conclusão
A partir da análise de
pôsteres de propaganda de dois períodos distintos, cabe afirmar que a
representação da mulher seguia o viés político que era necessário adquirir no
contexto de sua publicação. Por possuírem um caráter de rápida propagação,
estes pôsteres representavam o que as diversas políticas de Mao Zedong
propunham, de acordo com suas necessidades. Com isso, percebe-se também, que: “se antes as mulheres eram
consideradas objetos do patrimônio familiar, agora se convertiam em meros
instrumentos à serviço da coletividade” [BADELL, 1996, p.101, tradução nossa].
A interpretação de imagens também nos permite analisar a
intencionalidade do autor que a produziu, com quem e para quem ele dialoga. A
partir da percepção de uma influência ideológica nos pôsteres de propaganda,
podemos compreender a influência da liderança comunista. E com isso, cabe
afirmar que sem a adesão dessas mulheres ao Partido e às políticas maoístas,
não teria sido possível a Revolução dos modos como conhecemos hoje. Essas
mulheres, enquanto agentes de sua própria história, com força e determinação,
deram suas vidas à causa comunista.
Referências
Bettina Pinheiro Martins é bacharel em História pela Universidade Federal de Pelotas e mestranda em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Imagens disponíveis em:
<chineseposters.net>. Acesso em: 11 de set. de 2020.
FISAC
BADELL, Taciana. El outro sexo del dragón. Mujeres, literatura y sociedad en China.
1.
ed. Madrid: Narcea Ediciones, 1996.
MAO, Tse-tung. O livro
vermelho; [adaptação: Luis Fraga]. 1. ed. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2010.
RUAN,
Fangfu. Sex in China. Studies in Sexology in Chinese Culture. Plenus Press, 1991.
SHU, Chang-sheng. A História da China Popular no Século XX.
1. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. v. 1. 204 p.
Boa tarde.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Gostaria de saber se você encontrou indícios sobre a recepção dessas propagandas?
Att.
Jessica Caroline de Oliveira
Bom dia, Jessica. Obrigada pela pergunta.
ExcluirOs pôsteres de propaganda não são exclusivos da República Popular da China ou do PCC; os mais antigos de que tenho conhecimento datam da década de 20 (e há pôsteres bem recentes que retratam as olimpíadas de 2008, por exemplo). Por esse motivo, acredito que eles tenham uma grande repercussão dentro da China. Via de regra, esses pôsteres eram colados em grandes muros espalhados pelas cidades, dentro das universidades ou em áreas de grande concentração de pessoas, junto com outras mensagens — normalmente de cunho político. Basicamente era como uma espécie de jornal a céu aberto, e por ser de fácil acesso sua propagação era bem notória. Em relação a recepção, no que diz respeito às propagandas do período da Revolução Cultural ou das outras políticas de Mao, não era bem visto (pra não dizer proibido) você discordar. Se você fosse contra alguma política, era visto como direitista ou revisionista. Por isso, mesmo que as pessoas não concordassem com os pôsteres ou com qualquer outra mensagem que os acompanhasse, era de bom grado guardar a opinião para si.
Obrigada pelo interesse!
Att,
Bettina
Boa noite. Muito esclarecedora a análise iconográfica da propaganda chinesa. Gostaria de saber se a comunicadora teve acesso ao material produzido após a morte de Mao e se notou alguma mudança na representação da mulher a partir deste fato.
ResponderExcluirBom dia, Ana! Obrigada pela pergunta.
ExcluirSim, os pôsteres pós Mao acompanham a 'abertura' e a modernização da China. Algumas propagandas trazem imagens de enormes prédios comerciais (como os que conhecemos hoje) e até danceterias, que anteriormente eram consideradas imorais e decadentes. A representação das mulheres também se modificou. Elas voltaram a ter traços graciosos e sutis, e via de regra não são mais representadas como trabalhadoras do campo ou das fábricas, tampouco como revolucionárias. Não que essas políticas tenham sido abolidas da China, mas os pôsteres da década de 80 em diante não fazem mais ênfase na questão da Revolução, estando mais focados em mostrar uma prosperidade econômica e cultural. Eu acho as propagandas desse período de abertura muito interessantes, porque elas retratam mulheres cantoras "pop stars", atrizes e dançarinas, demonstrando a modernização de uma nova China.
Att,
Bettina Martins
Comentando novamente apenas para estar em acordo com as regras do debate. Percebi que não assinei meu comentário. Sendo assim, segue a retificação:
ExcluirBoa noite. Muito esclarecedora a análise iconográfica da propaganda chinesa. Gostaria de saber se a comunicadora teve acesso ao material produzido após a morte de Mao e se notou alguma mudança na representação da mulher a partir deste fato.
Att,
Ana Paula Alvarez Ribeiro Lopes.
Bettina, obrigada pela resposta!
ExcluirVocê acha que semelhanças podem ser traçadas entre os cartazes chineses a partir dos anos 80 e os americanos que retratam o sucesso do "American way of life"? Pois essa mudança na propaganda chinesa também pode ser entendida como uma tentativa de demonstrar o sucesso do seu sistema assim como a propaganda estadunidense.
Aliás, seria essa mudança temática uma consequência da gradual abertura econômica e cultural chinesa para o Ocidente, tendo como consequência a absorção, ainda que não declarada, de alguns de seus valores?
Att,
Ana Paula Alvarez Ribeiro Lopes.
Ana, eu acredito sim que existam semelhanças entre os pôsteres chineses e estadunidenses, exatamente pelo motivo que tu mencionou. O rumo da China a partir dos anos 80 e as reformas que começaram a ser tomadas consideram que o país precisaria se modernizar e se industrializar para alcançar um desenvolvimento econômico sólido o suficiente para então adentrar o socialismo de fato. E é aí que entra os Estados Unidos e suas propagandas. O capitalismo é marcado pela competição, e os EUA na década de 80 já se solidificavam como uma grande potência mundial. A partir do momento em que a China adentrou nesse mercado de competição, fez-se necessário manter uma imagem de igual para igual com as maiores potências.
ExcluirObrigada pelos questionamentos. Com certeza esse é um ótimo debate a ser estudado!
Att,
Bettina Martins
Bom dia, parabéns pelo texto e pelo trabalho com cartazes de propaganda.
ResponderExcluirNa sua opinião, considera que a propaganda política conduzida pelo PCCh foi relevante para mudar a imagem da mulher na sociedade chinesa? Considera essa mudança positiva?
Daniele Prozczinski
Boa tarde, Daniele. Obrigada pela pergunta.
ResponderExcluirSim, eu acredito que a propaganda política influenciou no modo como a sociedade chinesa encarava o papel dado a mulher. Essas mulheres eram encorajadas a participar ativamente do Partido e darem suas vidas à Revolução. Além disso, os pôsteres representam mulheres em funções de trabalho que anteriormente eram vistas como funções masculinas. O próprio Livro Vermelho do Mao contém citações acerca do papel igualitário que a mulher deveria ter na causa comunista. Agora, é complicado afirmar que essa mudança foi positiva. Considero que muitos desses pôsteres possuem uma representação romantizada da mulher. Além disso, elas não estavam na linha de frente do Partido e nem eram maioria nos trabalhos braçais das comunas ou das fábricas, como pode sugerir alguns pôsteres; esses trabalhos ainda eram majoritariamente feitos por homens. Nas minhas pesquisas acerca da situação das mulheres na Revolução Cultural, eu constatei um silenciamento gigante das pautas feministas, porque estas eram irrelevantes diante da situação prioritária de expurgar os revisionistas. Em suma, essas mulheres ainda continuavam na marginalidade, mesmo que suas representações nos pôsteres de propaganda demonstrassem feitos heroicos.
Att,
Bettina
Olá Bettina.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho. Vai me auxiliar muito para minhas reflexões referentes as minhas pesquisas de gênero.
Me marcou bastante a questão de que as mulheres sempre são usadas como um objeto conforme os interesses dos dominantes seja como o patrimônio da família ou como diz o texto mero instrumento de trabalho. Penso que continua dessa forma em todo o mundo apesar das variantes culturais. Por fim tanto oriente quanto ocidente ainda somos vistas como objetos.
Outra questão que tenho refletido muito são as relações de poder e a propaganda. Até então fazia análises a partir das referências do modo de vida americano, a campanha nazista e os atuais desdobramentos da política brasileira. Mas agora pretendo agregar essa questão também. Me parece que a questão da propaganda funciona aos moldes da dominação feminina, varia conforme a cultura e em nível mas continua a ser usada fortemente. A questão é, como se previnir desses ataques e de maneira geral.
Terceiro ponto que me chamou atenção foi a questão das diferenças entre mulheres do campo e da cidade. Creio ser ainda, apezar da evolução das redes, uma realidade para uma esmagadora maioria.
As perguntas são: você teria em mente alguma estratégia ou um caminho para a questão da propaganda? Já chegou a pensar nisso? E sobre essas diferenças entre mulheres do campoXcidade, achas que essas diferenças tem possibilidade de mudança ou precisaria de uma militância feminina mais focada nessa questão?
Ass: Daniela Jaques Roos
Boa noite, Daniela. Agradeço tuas perguntas e teu interesse. Fico feliz que meu texto tenha te auxiliado de alguma forma. Enquanto pesquisadoras de gênero, eu acho super importante que tenhamos essa troca e esse debate. E eu concordo contigo, ainda somos oprimidas em qualquer parte do mundo, seja no ocidente ou no oriente. Apesar das diferenças culturais, o machismo e o sistema patriarcal continua vigente, e a opressão se molda conforme for conveniente.
ExcluirEm relação às tuas perguntas, eu fiquei um pouco confusa com a primeira delas. Tu pergunta se há alguma estratégia para diminuir o uso opressivo da imagem de mulheres na propaganda? Sobre a diferença campoXcidade, tu tem razão sobre ainda ser uma realidade no país. Apesar do grande número de mulheres vivendo cada vez mais independentes nas cidades, há muitas pessoas ainda morando no interior da China; o país é imenso e há muitas realidades. Ainda há muitas tradições vivas, como por exemplo o casamento arranjado pelas famílias (não que essa seja uma prática exclusiva do campo, mas nessas áreas acontece mais). Os costumes do campo são menos maleáveis com o tempo, então eu acredito que ainda há muito o que conquistar em termos de independência para as mulheres.
Att,
Bettina Martins