NOTAS SOBRE O AMOR ROMÂNTICO PRESENTE NOS DRAMAS SUL-COREANOS
Josefina Pimenta Lobato em seu livro “Antropologia do amor – do oriente ao ocidente” retomou algumas investigações antropológicas sobre o amor romântico que pressupunham que ele seria um fenômeno particular do ocidente. Lewis Morgan acreditava que os povos bárbaros desconheciam o amor. Semelhante, Margareth Mead escreveu que o amor romântico, como conhecido na nossa civilização e caracterizado pela monogamia, exclusividade, fidelidade e ciúmes, não ocorria em Samoa. Na visão de Evans-Pritchard, o amor romântico também era um sentimento desconhecido entre as sociedades primitivas e, segundo o antropólogo, os jovens do ocidente são condicionados a acreditar que o amor romântico é precedente e a única justificativa para o casamento. Também, para Radcliffe-Brown, os africanos não pensavam no casamento como uma união baseada no amor romântico, ainda que algumas características como físico, saúde e beleza eram buscadas em uma mulher para a união [Lobato, 2012].
Contrapondo esses estudos, Bronislaw Malinowski afirmou que as práticas amorosas dos trombriandeses não se limitavam a busca de satisfação sexual. Ele constatou que a palavra kwakwadu designava “estar junto para fazer amor” no sentido em que duas pessoas estavam juntas por estarem apaixonadas uma pela outra [Lobato, 2012].
O antropólogo também descreveu o amor como sendo uma paixão que acomete tanto o melanésio quanto ao europeu. No entanto, segundo Anthony Giddens, o amor apaixonado “é mais ou menos universal” e deve ser diferenciado do amor romântico que está intrinsicamente ligado ao envolvimento emocional de duas pessoas do que de critérios sociais externos [Giddens, 1993].
Para Lobato, se a definição de amor romântico é “a capacidade de se apaixonar, de ter sentimentos de ternura, de ciúmes, de sofrer pelo amor não correspondido” ele não deve ser limitado apenas a uma cultura específica e nem como um acontecimento peculiar do ocidente. Diante que sentir emoções como raiva, inveja e medo, são comuns a todos os seres humanos. Mas se a conotação for de algo que almeja o casamento ou namoro, a limitação ao ocidente fica mais plausível.
Para Viveiros de Castro e Araújo, que analisaram a peça de Shakespeare “Romeu e Julieta”, uma das principais obras no formato literário e um drama arquetípico do amor, a noção de amor subordinada à valores da cultura ocidental traz uma concepção de mundo em que o indivíduo é a categoria central:
“do indivíduo liberto dos laços sociais, não mais derivando sua realidade dos grupos a que pertença, mas em relação direta com um cosmos composto de indivíduos, onde as relações sociais valorizadas são relações interindividuais. O amor – e aqui antecipamos algo de nossas conclusões – é visto como uma relação entre indivíduos, no sentido de seres despidos de qualquer referência ao mundo social, e mesmo contra este mundo”[Viveiros de Castro; Araújo, 1997, p. 131].
De outra
perspectiva e buscando confirmar que o amor romântico existe na China,
Jankowiak e Edward Fisher analisaram 185 monografias etnográficas de várias
regiões geográficas, desde as chamadas “orientais” até as ocidentais. Os
autores documentaram a ocorrência do amor romântico em 85% das diversas
culturas pesquisadas. Com esses dados eles puderam contradizer que a ideia popular de que o amor romântico é
essencialmente limitado à cultura ocidental ou produto dela. [Lobato, 2012]
Amor romântico,
amor confluente, amor domesticado e amor disciplinado
De acordo Giddens, a maior parte dos casamentos realizados na Europa pré-moderna eram arranjados com base na situação econômica dos indivíduos. Por exemplo, o casamento era um meio para organizar o trabalho agrário e dificilmente a condição de vida no trabalho árduo despertava uma paixão sexual. Além disso, o amor estava relacionado aos valores morais da cristandade. A maior parte das civilizações criaram mitos e histórias que condenavam os indivíduos que buscavam ligações permanentes devido a um amor apaixonado. Desta forma, existia uma diferenciação entre a castidade do casamento e o erotismo e a paixão dos casamentos extraconjugais [Giddens, 1993].
A partir do final do século XVIII, ainda que distinto, o amor romântico incorporou os elementos de amour passion (amor apaixonado) e introduziu uma narrativa individualizada, “inserindo o eu e o outro em uma narrativa pessoal, sem ligação particular com os processos sociais mais amplos”[Giddens, 1993, p. 50]. E, vinculou o amor com a ideia de liberdade.
Apesar do amor romântico estar ligado a ideia de “amor à primeira vista”, ele também deve ser diferenciado do amor apaixonado nas questões das compulsões sexuais e eróticas:
““O primeiro olhar” é uma atitude comunicativa, uma apreensão intuitiva das qualidades do outro. É um processo de atração por alguém que pode tornar a vida de outro alguém, digamos assim, “completa””[Giddens, 1993, p. 51]
Segundo Giddens, o amor romântico tem que ser compreendido com vários conjuntos de influências que afetaram principalmente a vida as mulheres. A feminilidade e distinção dos “sexos” (masculino e feminino) foram elementos associados a construção do amor romântico, conferindo a subordinação da mulher ao lar e do seu isolamento ao mundo exterior. O que também alimentou a procura das narrativas românticas:
“O indivíduo buscava no êxtase o que lhe era negado no mundo comum. Vista deste ângulo, a realidade das histórias românticas era uma expressão de fraqueza, uma incapacidade de se chegar a um acordo a autoidentidade frustrada na vida social real. Mas a literatura romântica era (e ainda é hoje) também um literatura de esperança, uma espécie de recusa. Frequentemente rejeitava a ideia da domesticidade estabelecida como o único ideal proeminente. Em muitas histórias românticas, após um namoro com outros tipos de homens, a heroína descobre as virtudes do indivíduo íntegro, sólido que se torna um marido confiável”[Giddens, 1993, p.55].
Além disso, a idealização da maternidade e criação dos filhos, alimentou os valores propagados sobre o amor romântico. Mas, diferente do amour passion, o amor romântico é maleável, cria uma história compartilhada e individual, colocando o indivíduo em autoquestionamento:
“Como eu me sinto em relação ao outro? Como o outro se sente a meu respeito? Será que os nossos sentimentos são “profundos” o bastante para suportar um envolvimento prolongado?” [Giddens, 1993, p.56].
O amor romântico é uma idealização do outro e projeção do futuro com o outro. Além disso, é a busca pela afirmação da autoidentidade a partir da descoberta do outro. De acordo com Giddens, o amor romântico suscita a questão da intimidade , presume uma comunicação psíquica (um encontro entre almas) e preenche um vazio que os indivíduos sequer reconhecem qual é [Giddens, 1993].
Na pesquisa de Sharon Thompson, no final da década de 1980, com 150 adolescentes americanos, ela observou que as respostas dos homens a respeito de relacionamentos e sobre sexo eram limitadas a uma narrativa sobre episódios de sexo esporádicos, desempenho heterossexual precoce e suas conquistas sexuais, enquanto que das mulheres, narrativa rotulada pela pesquisadora de “busca do romance”, era muito mais descritiva, detalhada e complexa. Entre as respostas das mulheres a pesquisadora encontrou falas reflexivas sobre liberdade e condição futura: “a minha ideia do que eu quero fazer exatamente agora é abraçar uma carreira que eu amo.... se eu me casar com alguém ou mesmo viver com alguém e ele me deixar, não tenho de me preocupar, porque serei totalmente independente”. [Thompson, 1989, p. 356 apud Giddens, 1993, p. 63] No entanto, também foi verificado falas que retomavam a ideia de uma busca por romance: “desejo o relacionamento ideal com um rapaz. Acho que quero alguém que me ame e cuide de mim, tanto quanto eu dele”[Thompson, 1989, p. 356 apud Giddens, 1993, p. 63].
Para Giddens, os ideias de amor romântico são fragmentados entre a pressão de emancipação e autonomia sexual feminina. O amor romântico é calcado em uma identificação projetiva, e esse aspecto vai contra o desenvolvimento de um relacionamento que depende de intimidade. Desta forma, o sociólogo distingue o amor romântico em uma categoria que ele chama de amor confluente:
“O amor confluente é um amor ativo, contingente e por isso entra em choque com as categorias “para sempre” e “único” da ideia do amor romântico. A “sociedade separada e divorciada” de hoje aparece aqui mais como um efeito de emergência do amor confluente do que como sua causa. Quanto mais o amor confluente consolida-se em uma possibilidade real, mais se afasta da busca da “pessoa especial” e o que mais conta é o “relacionamento especial” [Giddens, 1993, p.72].
O amor confluente presume igualdade de doação e no recebimento emocional. Desta forma, a realização do prazer sexual também é reciproco, como elemento chave na manutenção ou dissolução da união:
“O amor confluente desenvolve-se como um ideal em uma sociedade onde quase todos tem a oportunidade de tornarem-se sexualmente realizados; e presume o desaparecimento da distinção entre as mulheres “respeitáveis” e aquelas que de algum modo estão marginalizadas da vida social ortodoxa” [Giddens, 1993, p.74].
Além disso, o amor confluente não é exclusivamente monogâmico nem tem ligação com a heterossexualidade, o que mantem o relacionamento é a aceitação por parte dos parceiros [Giddens, 1993]. Desta forma, também como uma proposta para não particularizar a concepção de amor sendo própria do ocidente e nem ter um ponto de vista universalista sobre o amor, Josefina Pimenta Lobato propôs dois conceitos de amor: o domesticado e o disciplinado, e um noção de selvageria que qualifica o “caráter arbitrário e irracional da paixão amorosa a ser disciplinada ou domesticada” [Lobato, 2012, p.10]. Para constituir esses termos ela analisou algumas narrativas mítico-amorosas que influenciaram consideravelmente o imaginário amoroso tanto do ocidente, do oriente médio e da Índia.
Para a antropóloga, nas sociedades com valores holistas, em que o social se sobrepõe ao indivíduo: “a selvageria imprevisível e arbitrária do amor passional é vista como inaceitável, devendo ser, em princípio, controlada disciplinada, através do auto sacrifício, da abnegação e da renúncia, que a submetem aos interesses grupais representados ou mais abrangentes” [Lobato, 2012, p. 28)]. Essa noção do amor a autora chamou de amor disciplinado.
Contrapondo, a
noção de amor domesticado, seria quando os valores individuais são primordiais
e a sociedade é apenas um meio para satisfazer as necessidades, assim, a
“selvageria passional do amor”, é incontrolável, não existindo contenção. Nesse
caso a noção de amor é “glorificada e tida como uma experiência emocional desejável
e enobrecedora” [Lobato, 2012, p.28]. Neste sentido, a noção de amor com
enfoque no destino do sujeito e não do social, não é considerado destrutivo,
apenas trágico e cabe ao indivíduo domesticar o amor ou vivê-lo de forma
apaixonada.
E quanto a noção
de amor representada nos dramas sul-coreanos?
No Japão e em outros países asiáticos, os dramas de TV coreanos são populares porque promovem valores tradicionais confucionistas, como ter piedade e respeitar os idosos, valores comunitários, familismo, amor romântico e platônico, e alguns aspectos da tradicional cultura coreana como comidas, moda, e ainda emoções e sentimentos [Jonghoe, 2007, p. 194].
Mark Ravina,
investigou através de outros estudos e entrevistas sobre a recepção da onda
coreana, especificamente dos dramas, em diversos lugares do mundo, e
descobriu que as pessoas no Oriente médio gostam dos dramas sul-coreanos
pela falta de sexo explícito na produção. Em alguns países do leste asiático,
demonstrações de sexualidade física, podem atrair censura protestos e ações
judiciais. Ao invés disso os dramas coreanos se concentram no amor
intenso, diferente dos japoneses como descrito por um fã:
“Aqueles dramas coreanos que eu assisti... são muito diferentes dos dramas japoneses: os dramas japoneses sempre têm cenas sexuais. E então você descobre que não contém nenhum amor em dramas de TV por um longo tempo, e você, finalmente, encontra isso nos dramas coreanos! É isso, só um gentil contato visual, só um pequeno contato, ainda continua muito excitante” [Lin; Tong, 2008, p. 103 apud Ravina, 2008, p. 7].
Esta
característica, de amor intenso, é o que o público latino-americano aprecia
sobre a cultura popular coreana. Dois peruanos fãs da cultura coreana relataram
suas impressões sobre os dramas sul-coreanos:
“Entrevistado A: eu acredito que os dramas são tão bem apreciados por causa da emoção que os coreanos expressam através de suas ações, e a maneira delicada de representar o amor e outras emoções. Entrevistado B: seus enredos são totalmente diferentes do que estamos acostumados... suas histórias são mais doces, românticas de um jeito bonito, engraçadas. [...] os atores parecem diferentes (doces, carinhosos e bonitos) e a cultura em geral... é diferente [e melhor em alguns aspectos) da nossa própria cultura e nós gostamos disso”[Ravina, 2008, p. 7].
Ainda que não exista o significado ou equivalente de melodrama nos países como Japão, China e Coreia do Sul, é possível notar características melodramáticas na literatura, no teatro, no cinema e nas produções televisivas destes países. De acordo com Carvalho, o drama coreano pode ser também definido nos padrões do melodrama ocidental. Além da representação de traços culturais como culinária e práticas medicinais, outros elementos encontrados nessas produções televisivas são os valores sociais, a predominância da família sobre o indivíduo e a valorização do sofrimento, que de acordo com a autora são adaptações à estrutura melodramática[Carvalho, 2009].
Ao analisar o drama Goblin: The Lonely and Great God é possível notar características melodramáticas como a rápida alternância de momentos de desespero, desolação e tristeza, para momentos de alegria, felicidade e euforia. Essas ações são marcadas com grande intensidade através de arranjos visuais e sonoros, como mudanças de planos, iluminação e trilhas sonoras que acompanham a narrativa. As cenas de humor são utilizadas na trama como ferramenta para fugir dos momentos trágicos, mas também compõe a construção do romance do casal principal.
Já o tema da narrativa, além de ser gerado a partir de conflitos familiares, como por exemplo a morte da mãe de Eun Tak, obrigando-a morar com a tia que só quer saber de sua possível herança, também se molda a partir da história de amor romântica predestinada entre Eun Tak e Kim Shin. Apesar do final feliz, em vários momentos, existe a separação do casal ou pelo menos a iminência disso. Em diversos trechos também, a vida de Eun Tak só parece fazer sentido porque ela tem um propósito à vida de Kim Shin. Fica evidente que o amor ou a predestinação do casal não é isolada em um tempo/espaço, por diversas vezes a morte é evitada e existe a ressureição dos personagens. Outro aspecto que não é um empecilho para que o casal permaneça junto, é a questão da idade. Eun Tak se apaixona por Kim Shin quando tem 19 anos e é uma colegial, ele por sua vez tem 939 anos, mas como ela mesmo retratou, ele tem a aparência de um homem de 30 anos.
Além disso, vários elementos como a paisagem, o tempo climático, as árvores e flores tem um significado romântico e constroem a narrativa romântica. Como por exemplo, o campo de trigo de sarraceno, local recorrido diversas vezes pelo casal, inclusive no momento do casamento, a chuva (representando a tristeza de Kim Shin), as árvores de flor de cerejeira, a folha de bordo e a primeira neve do ano.
Ademais, na maioria dos episódios o ciúme é manifestado ora por Kim Shin, ora por Eun Tak. Também se pode quantificar quantas vezes os dois beijaram-se e como isso era uma grande expectativa no andamento da história.
Outros k-dramas como The King: Eternal Monarch (2020), Hotel del Luna (2019), The Bride of Haebak (2017), While You Were Sleeping (2017), W (2016) e Legend of Blue Sea (2016), categorizados no gênero de fantasia e romance, são construídos em uma narrativa semelhante a de Goblin: The Lonely and Great God. Os casais são predestinados (inserindo a ideia de almas gêmeas), não importa os conflitos familiares e sociais, os casais têm um final feliz (eles ficam juntos no final).
Sendo
assim, ponderando as análises feitas até aqui sobre o amor romântico, acredito
que a noção de amor presente nos k-dramas são uma justificativa para se
“mergulhar numa paixão” e que os valores
individuais se sobrepõem ao social, que pode também ser categorizado como amor
domesticado de Josefina Pimenta Lobato. Essa é a principal característica que
faz dos dramas sul-coreanos serem tão
adoráveis. Além de não possuírem sexo e violência explícitos, a narrativa se
constrói através de um amor idealizado e predestinado, que pode ser notado
pelos elementos que compõe os cenários, como as paisagens de campos, as flores,
a neve e etc., além da trilha sonora. Tudo parece ter um significado romântico.
Somado a isso, alguns aspectos do melodrama se fazem presentes nessas produções
e contribuem para a sua aceitação, como a fluidez da alternância do trágico em
cômico, do bem vencer o mal e do esperado final feliz.
Referências
Jamille da
Silveira é formada em Ciências Sociais pela PUCPR, atualmente mestranda no
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR e integrante do Núcleo de
Estudos em Ficção Seriada e Audiovisualidades da UFPR.
CARVALHO, Ludmila Moreira Macedo de. Repensando o melodrama no contexto asiático: um estudo sobre a série televisiva sul-coreana Dae Jang Geum. Contemporânea. Revista de Comunicação e Cultura, v. 6, n. 1, 2009. Disponível em:https://www.portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/.
GIDDENS,
Anthony. Transformações da intimidade: Sexualidade, amor e erotismo nas
sociedades modernas. São
Paulo: UNESP, 1993.
JONGHOE, Yang. Globalization, Nationalism and
Regionalization. Development and Society, v. 36, n. 2, p. 177-199, 2007. Disponível
em: http://www.jstor.org/stable/deveandsoci.36.2.177.
LOBATO,
Josefina Pimenta. Antropologia do amor: do Oriente ao Ocidente. Autêntica, 2012.
RAVINA, Mark. Introduction: Conceptualizing the Korean
Wave. Southeast Review of Asian Studies, 31, p. 3-9, 2009.
VIVEIROS
DE CASTRO, Eduardo; ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Romeu e Julieta e a origem do
Estado. In: VELHO, Gilberto. Arte e sociedade: ensaios de sociologia da
arte. Rio de Janeiro: Zahar, p. 130-169, 1977.
Oi Jamille, primeiro, excelente texto! Gostei muito do conceito =) meus parabéns!
ResponderExcluirBom, lendo o teu texto eu fiquei com uma curiosidade...eu vi que tu observou que os fãs preferem os Kdramas porque eles transmitem um amor puro, em que os personagens principais se beijam lá pelo 10º episódio. Eu realmente notei essa afeição dos fãs já faz um tempo, mas acredito - posso estar enganada porque não fiz nenhuma pesquisa sobre - que os fãs não estão se importando tanto se o beijo acontece no 1º ou 10º episódio, parece que estão se importando mais se o casal tem a "química" do que um beijo sem graça estilo Park Shin Hye. Outros fãs até querem ver alguma coisa mais ousada, mas que tenha um envolvimento entre o casal principal. Gostaria de saber a tua opinião sobre isso, se realmente houve uma mudança ou se os fãs estão se tornando mais exigente ou outra coisa que justifique esse comportamento.
Ass: Virgine Borges
Olá, Virgine,
ExcluirTambém estou notando essa mudança de preferência nos grupos de facebook sobre dorama em que participo. Acredito que você está certíssima sobre essa questão da "química" do casal. A prática do shipping também é muito forte nos k-dramas. Posso citar, recentemente, o k-drama The King: eternal monarch, que recebeu criticas também por causa do casal principal, no entanto, no k-drama Goblin: the lonely and great god, que tem a mesma protagonista (Kim Go-eun), o casal recebeu muitos elogios.
Também noto essa questão da ousadia e do protagonista não ser aquele estereótipo de "príncipe encantado", posso citar o k-drama Flower of evil. No entanto, me falta conhecimento de pesquisa sobre se esse comportamento realmente mudou ou do porque mudou. Podem ser vários fatores, acredito que um deles é a popularização dos k-dramas principalmente agora pelas plataformas de streaming. Já percebo nos grupos uma diferenciação entre as telespectadoras do tipo: dorameira raiz x dorameira Nutella. É algo a se pesquisar.
Muito obrigada pelo comentário,
Jamille da Silveira
esqueci de deixar meu e-mail, caso queira trocar umas figurinhas:
Excluirjamilledasilveira@gmail.com
Parabéns pelo texto, Jamille! Não conhecia esses conceitos que você trouxe sobre os tipos de amor e achei bem interessante. Eu gosto muito de dramas sul-coreanos, e já vi alguns que você citou durante o texto. A minha pergunta é sobre o que você acha em relação ao público que assiste. Você acha que na maioria são mulheres que veem? Se sim, será que essa abordagem de sempre ter um final feliz e uma predestinação, "alma gêmea", pode acabar "iludindo" de modo negativo as mulheres, no sentido de fazê-las acreditar que algo semelhante possa acontecer com elas?
ResponderExcluirNarumi Ito.
Oi, Narumi,
ExcluirAgora no meu mestrado estou realizando uma pesquisa com fãs de k-pop e de k-dramas, nos resultados iniciais, de um questionário que apliquei, a maioria dos respondentes são do gênero feminino. Ainda me falta chegar mais afundo nos significados atribuídos por essas fãs sobre os k-dramas. Mas, se seguirmos pelos argumentos do Anthony Giddens que cito no texto, sobre amor romântico, as narrativas românticas, como a literatura, no século XVIII e XVII, além de serem escritas por mulheres, também influenciaram elas na construção desse imaginário, "alma gêmea", predestinação, príncipe encantado, idealização, e etc. Todos esses aspectos ligados ao amor romântico. Assim como também pode reforçar o estereotipo e distinção de papéis de gêneros. Acredito que esse é um dos pontos negativos. Outro ponto que noto nos k-dramas é esse imaginário construído através dos protagonistas masculinos, os chamados oppas pelas fãs. Ouço e leio relatos de meninas, até menores de idad, que acreditam que essas relações e os homens sul-coreanos são iguais nos k-dramas, é algo que devemos estar atentas.
Muito obrigado pelo comentário,
Jamille da Silveira
esqueci de deixar meu e-mail, caso queira trocar umas figurinhas:
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século XVIII e XIX*
ExcluirEntendi. Muito interessante a sua pesquisa, Jamille! Obrigada por responder. Te enviei um e-mail :)
ExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-la pelo maravilhoso trabalho e dizer que fico imensamente feliz por você trazer aos dramas sul- coreanos um pouco mais de visibilidade.
ResponderExcluirMinha dúvida é a seguinte: Sobre a análise final, de que o amor nos K-dramas se encaixam na categoria de Amor Domesticado, sendo uma das características "Os valores individuais são primordiais e a sociedade é apenas um meio para satisfazer as necessidades(...)", como a sociedade serviria de meio?
Agora que estou entendendo mais o conceito de amor nos dramas sul-coreanos, aguardo a resposta para compreender melhor esse papel da sociedade nos dramas: Crash Landing on You e Because This is My First Life.
Att, Yvylyn Chagas Alcântara.
Oi, Yvylyn,
ExcluirAcredito que a sociedade (família, amigos, colegas, pessoas que passam pela trajetória de vida da pessoa) na construção do amor domesticado serve de meio apenas para que ela conviva com essas pessoas, sem que elas influenciem e sejam fatores decisivos nas relações amorosas. Nas sociedades ocidentais, esses valores individuais são mais fortes do que valores sociais. O casamento, por exemplo, é uma escolha individual amorosa, uma livre escolha podemos dizer. Já em sociedades com valores sociais mais fortes, como em sociedades com valores confucionistas, o casamento pode não ser uma escolha livre do individuo. No entanto, nos k-dramas, acredito que por ser reflexo de uma cultura híbrida, eles transmitem mais esse amor domesticado, que citei, do que um amor disciplinado.
Acredito que ao analisar Crash Landing on You e Because This is My First Life, você tenha resultados interessantes, pois o casal fica junto independente de toda a narrativa. No primeiro k-drama citado, até mesmo a questão de nacionalidade tão forte naqueles países não são empecilhos. e no segundo caso, até mesmo a personalidade dos personagens e um casamento que foi iniciado não por amor, mas que no fim acabam se apaixonando. Muito legal!
Muito obrigada pelo comentário,
Jamille da Silveira
esqueci de deixar meu e-mail, caso queira trocar umas figurinhas:
Excluirjamilledasilveira@gmail.com
Pegando parte do comentário acima, também fiquei surpreendida com diversos tipos que podem existir de amor! Com base nos k-dramas, sou fã e sempre que posso assisto, e tento sempre tirar algo dos dramas que vejo. Percebi que quando começou a falar dos k-dramas, é citado o papel do Confucionismo como forma de comportamento por parte dos Coreanos. Em seu texto é citado a forma de amor representada nos dramas, o "amor intenso" e também a predestinação, como nos dramas citados ao longo do texto. Com os lançamentos recentes de alguns k-dramas mais "reais" como, Extracurricular, você acha que esse imaginário melodramático pode se perder ou atrair mais seguidores para o movimento da Hallyu por estar se abrindo a diferentes temáticas? E como você acha que o ambiente ficcional proporcionado por essas produções, como usar os preceitos Confucionistas e até mesmo como mostrar uma imagem de “perfeição”, podem influenciar na experiência do telespectador?
ResponderExcluirQuero lhe parabenizar pelo texto, e por divulgar esse contéudo para aqueles que não conhecem!
Att. Eduarda Christine Souza Pucci
Oi, Eduarda,
ExcluirAcredito que com a popularização dos k-dramas principalmente agora pelas plataformas de streaming, e pela própria politica cultural do país em querer divulgar os k-dramas, como você citou o movimento do Hallyu e a utilização do soft power, os k-dramas estão sendo consumidos em seus diversos gêneros: romance, suspense, fantasia. e etc. Acredito que o melodrama é um ponto positivo na procura de uma ficção seriada. As telenovelas brasileiras, mexicanas e turcas, que são estruturadas numa narrativa melodramática fazem muito sucesso pelo mundo.
Acredito que os dramas permitem esse contato com a cultura sul-coreana, como culinária, música, idioma e até mesmo a medicina oriental, e outros valores da cultural sul-coreana. O confucionismo fazendo parte da construção socio histórica do país é um aspecto que pode ser transmitido nos k-dramas e fazer com que os telespectadores criem um imaginário e tenham contato e conheçam outra cultura.
Muito Obrigada pelo comentário. Se quiser trocar figurinhas deixo o meu e-mail para contato: jamilledasilveira@gmail.com
Jamille da Silveira
Olá autora! Primeiramente eu gostaria de parabeniza-la pelo texto bastante precioso. Eu também gosto de kdramas, assisto desde a minha adolescência e adorei ver esse tema no mundo acadêmico já que sempre o achei deixado de lado. Eu gostaria de perguntar se esse preconceito do Ocidente pelo amor no Oriente pode ter haver com a poligamia que era uma prática comum aos mais ricos em tempos antigos na região, algo impensável e inaceitável para os ocidentais cristãs? Desde já agradeço.
ResponderExcluirGiovanna Mayara de Souza Lima
Oi, Giovanna,
ExcluirAcredito que esse preconceito pode ser da distinção do Oriente x Ocidente, essa construção que se fez do "eu" e do "outro", da civilização x selvagens, como se os orientais desconhecessem o amor. No entanto, também temos o aspecto que o amor romântico, tal como conhecemos, como Josefina Lobato comenta de que amor leva ao casamento, pode ser uma construção ocidental, assim como o Oriente como cita Edward Said é um construção do ocidente.
Acredito que sim, esse preconceito também pode ser da questão da poligamia, pois o ocidente difundiu valores cristãos e monogâmicos. Em seu livro Josefina Lobato cita a história de Krishna e Radha e faz uma analise sobre o amor presente na narrativa que ela chama de amor-divino. É interessante esse aspecto analisado por Josefina Lobato, nos dá uma compreensão sobre amor também numa instancia em que poligamia está envolvida. Mas preciso me aprofundar mais sobre esse tema.
Muito Obrigado pelo comentário, se quiser trocar figurinhas, deixo meu e-mail para contato: jamilledasilveira@gmail.com
Jamille da Silveira.
Oi, Giovanna,
ResponderExcluirAcredito que esse preconceito pode ser da distinção do Oriente x Ocidente, essa construção que se fez do "eu" e do "outro", da civilização x selvagens, como se os orientais desconhecessem o amor. No entanto, também temos o aspecto que o amor romântico, tal como conhecemos, como Josefina Lobato comenta de que amor leva ao casamento, pode ser uma construção ocidental, assim como o Oriente como cita Edward Said é um construção do ocidente.
Acredito que sim, esse preconceito também pode ser da questão da poligamia, pois o ocidente difundiu valores cristãos e monogâmicos. Em seu livro Josefina Lobato cita a história de Krishna e Radha e faz uma analise sobre o amor presente na narrativa que ela chama de amor-divino. É interessante esse aspecto analisado por Josefina Lobato, nos dá uma compreensão sobre amor também numa instancia em que poligamia está envolvida. Mas preciso me aprofundar mais sobre esse tema.
Muito Obrigado pelo comentário, se quiser trocar figurinhas, deixo meu e-mail para contato: jamilledasilveira@gmail.com
Jamille da Silveira.
Boa tarde! Gratidão por este texto, pela produção deste estudo tão significativo. Estive pensando, esse amor romântico expressado na cultura pop televisionada Sul Coreana, é alteridade? No sentido de tudo o que a Europa e os outros não são por meio dessas representações? E o impacto social que se aplica diante disso, ocasiona/auxília em uma fetichização e objetificação do asiático ideal tanto para os estrangeiros quanto para os nativos?
ResponderExcluirAtt, Camila Hoffmann.
Oi, Camila,
ExcluirAcredito que o amor romântico representado nos k-dramas é o efeito de uma cultura híbrida. Como sendo uma cultura híbrida, alguns aspectos são resultantes de uma globalização (ou melhor mundialização) e não unicamente de uma região.
Acredito que esse amor romântico pode ser visto em outras ficções seriadas de outros países, como nas telenovelas brasileiras, mexicanas e turcas. Eu não consigo afirmar que exista uma objetificação e fetichização da noção de amor romântico, entendendo essa noção como produto da cultura sul-coreana (ou asiática), pois ela pode ser uma noção híbrida, até mesmo com influências norte-americanas e europeias, por exemplo.
No entanto, talvez o k-drama como um todo pode ser analisado sobre esse aspecto que você cita. Pois acredito que os k-dramas também representam outros valores socioculturais; mostram a culinária, o idioma, a música (não só o k-pop), e outras representações que fazem parte da construção cultural e identitária do país. Neste ponto de vista, acredito que se pode cair nessa fetichização e objetificação, tratar o oriente como exótico. Não a ideia do amor romântico, mas a narrativa dos k-dramas como um todo.
Aliás, nas nossas pesquisas isso é muito importante, como fazer uma pesquisa sem cair nessa relativização do eu x outro.
Muito obrigada pelo comentário, espero ter conseguido te responder!
Jamille da Silveira
jamilledasilveira@gmail.com
Oi, Camila,
ResponderExcluirAcredito que o amor romântico representado nos k-dramas é o efeito de uma cultura híbrida. Como sendo uma cultura híbrida, alguns aspectos são resultantes de uma globalização (ou melhor mundialização) e não unicamente de uma região.
Acredito que esse amor romântico pode ser visto em outras ficções seriadas de outros países, como nas telenovelas brasileiras, mexicanas e turcas. Eu não consigo afirmar que exista uma objetificação e fetichização da noção de amor romântico, entendendo essa noção como produto da cultura sul-coreana (ou asiática), pois ela pode ser uma noção híbrida, até mesmo com influências norte-americanas e europeias, por exemplo.
No entanto, talvez o k-drama como um todo pode ser analisado sobre esse aspecto que você cita. Pois acredito que os k-dramas também representam outros valores socioculturais; mostram a culinária, o idioma, a música (não só o k-pop), e outras representações que fazem parte da construção cultural e identitária do país. Neste ponto de vista, acredito que se pode cair nessa fetichização e objetificação, tratar o oriente como exótico. Não a ideia do amor romântico, mas a narrativa dos k-dramas como um todo.
Aliás, nas nossas pesquisas isso é muito importante, como fazer uma pesquisa sem cair nessa relativização do eu x outro.
Muito obrigada pelo comentário, espero ter conseguido te responder!
Jamille da Silveira
jamilledasilveira@gmail.com