O SILENCIAMENTO JAPONÊS SOBRE
A DIVERSIDADE SEXUAL NO MANGÁ “O MARIDO DO MEU IRMÃO”
Discursar sobre questões relacionadas a diversidade sexual não é uma tarefa que exija facilidade em seu tratamento, pois debater identidade gênero e orientação sexual demandam abordagem compreensiva e delicada, seja no meio acadêmico, social, como também no ambiente familiar.
A análise de tema semelhante que, no entanto, intercorre em outra região ou país do globo deve ser seguida auxiliada por aparatos ou referências que demonstrarão, em parte, como àquela sociedade lida particularmente com a problemática, no caso deste ensaio: a diversidade sexual da sua população e os preconceitos existentes sobre o que se acordou chamar de comunidade LGBTQIA+.
Sendo assim, partindo desta introdução, o que será esmiuçado neste breve ensaio é o silêncio e o reservado modo da sociedade japonesa em encarar a existência das pessoas que possuem orientações sexuais que divergem da norma heteronormativa, ou seja, aquela que prega a “família nuclear, monogâmica, patriarcal e heterossexual” [GREEN, et. al, p. 10], e que por efeito dessa divergência faz com que eles sejam tratados de forma depreciativa, preconceituosa e violenta, que se exemplifica com os casos de homofobia, transfobia, lesbofobia, entre outros, sintetizados nos chamados crimes de ódio.
Para isso, recorri à leitura e análise do mangá O Marido do meu Irmão, do famoso mangaká homoerótico japonês Gengoroh Tagame. Lançado pela editora Panini Comics, e pela linha editorial Planet Mangá em dois volumes, em 2019, o mangá aborda a delicada história de um pai solteiro que recebe a visita do marido de seu falecido irmão homossexual. Yaichi-san, pai de Kana-chan e cunhado de Mike (o visitante canadense), vive um dilema por não saber lidar com o viúvo do irmão, bem como as questões ligadas à sexualidade humana, fator que o faz refletir ao longo do mangá, pois foi determinante para que se distanciasse do próprio irmão.
Nesse meio tempo em que Mike está de visita na casa do cunhado, no
Japão, Yaichi passa por um processo de terapia e cura dos assuntos mal
resolvidos do passado, desvencilhando-se de preconceitos e estereótipos em
relação a comunidade LGBTQIA+, compreendendo, com ajuda dos inocentes
princípios da sua filha e das conversas com Mike que a relação entre pessoas do
mesmo sexo não tem razão para ser abominada, ou mesmo que seja tratada como um
tabu em seu seio familiar e pela sociedade japonesa.
Silenciados, reservados ou preconceituosos?
Ao longo da leitura do mangá podemos identificar diversos momentos em que Gengoroh Tagame demonstra a cisma dos japoneses em relação à sexualidade, principalmente quando diálogos sobre as diferenças existentes entre a sociedade canadense e a japonesa acontecem, ocorrendo o chamado choque cultural.
O primeiro encontro de Yaichi com Mike exemplifica bem o primeiro conflito, pois o canadense, ao visualizar que Yaichi é idêntico fisicamente ao marido falecido, não hesita em abraçá-lo chorosamente, fazendo com que o cunhado pense rudemente em ofendê-lo, considerando em chamá-lo de “viado”, e pedindo para lhe largar. No entanto, a reação de Yaichi prova-se compreensiva, pedido educadamente para que Mike perceba que está abraçando o cunhado e não o irmão. Aqui é necessário lembrar que não é costume dos japoneses se abraçarem, fato que é reforçado pelo próprio Yaichi.
Após o primeiro encontro, Yaichi apresenta Mike a sua filha Kana que
fica boquiaberta ao descobrir que tem um tio, e que este era casado com o irmão
do seu pai. Até aquele momento, Kana não sabia que o pai tinha um irmão, muito
menos que ele era homossexual. Devido ao fato de Mike e Ryoji terem casado no
Canadá, tanto Yaichi quanto Kana ficam confusos, inicialmente, com o casamento
entre pessoas do mesmo sexo. No Japão o casamento entre pessoas do mesmo sexo
não é permitido pela lei, sendo reconhecido apenas os casamentos realizados
fora do país. No entanto, alguns distritos como o de Shibuya e Setagaya, em
Tóquio, e na cidade de Sapporo, capital da Ilha de Hokkaido, passaram a
reconhecer a união entre pessoas LGBT’s. Em Sapporo, por exemplo
“As autoridades municipais da quinta maior cidade japonesa, com cerca de 2,5 milhões de habitantes, começaram [...] a expedir certificados que, ainda que não sejam legalmente vinculativos, permitirão aos casais gays exercer certos direitos e acessar determinados serviços. Ao assinar um "voto de associação", o casal ganha um recibo da cidade que, ainda que não confira direitos e obrigações legais a eles, permite ser dependente do plano de saúde do companheiro e utilizar descontos familiares para determinados serviços” [G1, 2017].
Já em Shibuya,
“Segundo a ordenança aprovada [...] pelo consistório local, estes certificados reconhecerão os casais do mesmo sexo como uniões diferentes ao casamento e não serão legalmente vinculativos. No entanto, a ordenança inclui medidas para garantir que as uniões homossexuais recebam um status similar ao dos casamentos no momento de receber benefícios fiscais, serviços sociais ou contratos a título partilhado” [Exame, 2015].
Logo, podemos perceber como é chocante para a pequena Kana e seu pai saber do casamento entre pessoas do mesmo sexo em um país em que tal prática não é nem mesmo reconhecida, se diferenciando de outros países ocidentais. Para o Yaichi, após uma conversa sobre sushi de tempurá, ele reflete sobre o casamento LGBT, pensando ser “algo parecido com sushi de tempurá”: não sabe o sabor nem como é servido, afirmando que, provavelmente, tenha um gosto horrível. Mas sua percepção se altera à medida que conhece o cunhado e passa a reconhecer a injustiça em relação à comunidade.
É válido observar como os preconceitos estão enraizados na mente dele e da sociedade japonesa. A presença de Mike na casa do Yaichi provoca conflitos nos princípios e atitudes deste. Recusa-se a ficar sem camisa em sua própria casa (prática recorrente anterior a presença do cunhado), provocando questionamentos de sua própria filha que acostumada estava com a comodidade do pai.
Enquanto Kana tem uma visão mais simplista do Mike e da união entre pessoas do mesmo sexo, o pai pensa demasiadamente, tornando-se rude na consciência para não ser na fala interativa. Fica fascinado com a amizade que a filha constrói com o cunhado. Kana demonstra não se importar se ele é homossexual, para a garota a sua sexualidade é motivo de extrema curiosidade. Instiga o tio perguntando: “Quem era o marido e quem era esposa?”, e Mike simpaticamente responde que ambos eram husband, ou seja, maridos um do outro.
O pai, devido os costumes, a idade e uma mente mais fechada, espanta-se com os questionamentos de Kana. Afinal, não é de seu feitio perguntar sobre a sexualidade e a vida conjugal dos outros. Por vezes Yaichi hesita em apresentar Mike como o marido do irmão, até aqui ele é apenas o “amigo do irmão”. Apesar de desejar que sua índole se iguale a da filha, simplista e desprovida prejulgamentos, ele ainda encontra dificuldades, pois a memória do irmão ainda permanece em suas reflexões.
Durante a narrativa é revelado que após o irmão ter revelado sua homossexualidade, ambos se afastaram, e nada mais falaram sobre o assunto. Ryoji viajou para o Canadá, e claro, casou-se com Mike. Desde então Yaichi e Ryoji nunca mais voltaram a se falar, o que durou exatamente dez anos, até sua fatídica morte. No Japão, de acordo com o mangá, não se fala muito sobre a(s) sexualidade(s), é um tabu discutir tal assunto, bem como revelar-se LGBT.
A próxima vez que Yaichi presenciaria uma revelação seria com Kazuya-san, irmão do amigo da pequena Kana, que chegaria em sua casa para discutir sua sexualidade com Mike, o único que poderia compreendê-lo naquele momento. O menino não encontra abertura para dialogar com seus familiares. Teme reações adversas, e por ter ouvido falar de Mike, lhe procura para conversar sobre a sua orientação. A realidade de alguém que assume a homossexualidade pode revelar-se extremamente desagradável, pois “tem criança que só por ser gay é expulsa de casa, sofre bullyng na escola”, de acordo com Mike.
Yaichi não sabe explicar se tais crueldades ocorrem no Japão, por justamente não interagir com outros homossexuais e a sociedade ser reservada. Mas consegue compreender que “sair do armário” seja uma atitude corajosa, e que esconder a sexualidade da família e da sociedade cause grande sofrimento.
Nos últimos anos no Japão muitas pessoas tiveram sua sexualidade revelada contra sua própria vontade, sendo esta uma cruel violação a quem se orienta ou se identifica como LGBT. Devido este fato, na região de Mie foi aprovada uma lei que proíbe que pessoas LGBT’s sejam “postas para fora do armário”,
Ainda, segundo a notícia do site de notícias Hypeness, “o ato de ‘sair do armário’ pode ter consequências práticas graves — muitos indivíduos são rejeitados pelas famílias e sofrem para manter ou encontrar empregos quando sua sexualidade é revelada” (Hypeness, 2020).
Outra referência
de como existe o temor em assumir a sexualidade no Japão está representada no
segundo volume do mangá, quando Mike conhece Kato-Yan-san, amigo dos tempos de
colegial do marido. Se Kazuya-san não consegue assumir a sua sexualidade por
medo da reação dos pais, Kato-Yan acredita que não “seja necessário ficar
falando sobre essas coisas”. Neste ponto podemos observar que a recusa do amigo
em se expor deriva tanto costume japonês em ser reservado quanto da política
social conservadora, negativa em debater sobre a sexualidade humana, em
reconhecer as uniões, ocasionando nos LGBT’s sentimentos suprimidos, ou seja,
os impossibilitando de viver livremente a sua orientação sexual, pois esta não
está em concordância com os preceitos ditados pela heteronormatividade.
Redenção
de Yaichi-san
Yaichi-san começa a assimilar e a mudar suas atitudes ainda no primeiro volume do mangá, principalmente após a mãe da colega de Kana-chan dizer que Mike poderia ser uma “má influência”. Yaichi considera que tal dizer discrimina quem quem é homossexual, e os define como criminosos, sendo que Mike está longe de assumir tal caráter.
O pai passar a não se importar mais em ficar de cueca, sem camisa, ou tomar banho no furô com Mike quando vão para uma casa de termas com Kana-chan e sua mãe.
Mas, o ápice de sua redenção com Mike quiçá seja após a ligação que Yaichi recebe do regente responsável pela turma da filha, o professor Yokohama. Ele telefona interessado em conversar pessoalmente com pai, principalmente após a aparição do Mike na escola de Kana para entregar-lhe a flauta que esquecera em casa no dia da sua aula de música. Na escola, o professor alega que Kana tem falado muito sobre Mike para seus colegas de classe, bem como sobre homossexualidade e casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Adverte o pai que falar tais coisas podem não ser apropriadas para o ambiente escolar e que a filha pode vir a sofrer bullyng, e atenua o fato de Kana ser cuidada por um pai solteiro.
No entanto, ao invés de retrair-se como fizera em outras vezes, Yaichi é categórico em sua réplica:
“Professor. O senhor se preocupa por nosso lar se composto apenas por
mim e minha filha? Se for isso, agradeço muito, mas pode ficar tranquilo. Eu
posso ser divorciado, mas não precisa nos comparar a outras famílias e se
preocupar com isso. E com relação à Kana. Mesmo que ela tenha peculiaridades eu
não pretendo obrigá-la mudar por ser diferente dos outros. E o estrangeiro na minha
casa a quem o senhor se referiu é o marido do meu irmão e tio da minha filha.
Não consigo imaginar nenhum motivo para impedi-la de falar para os amigos sobre
seu querido tio! E se, por acaso ela sofrer algum tipo de provocação se
possível gostaria que o senhor advertisse não quem sofreu, mas que praticou o bullyng”
(Tagame, p. 237-240, 2019)
Conclusões
Portanto, o que podemos aprender com o Marido do meu Irmão é que
aceitar, compreender e dialogar sobre a sexualidade é a melhor maneira de
respeitar a orientação e a identidade do outro, libertando-se de pensamentos
intolerantes e estereotipados. Gengoroh Tagame apresenta uma narrativa
extremamente didática, própria para a sociedade japonesa resolver suas
discordâncias em relação aos LGBT’s, e um agrado para os ocidentais amantes dos
mangás e das histórias relacionadas ao amor por aqueles que são tratados,
ainda, com injustiça pela sociedade.
Referências
Pedro Antonio de Brito Neto é mestrando do Programa de Pós-graduação
em História (PPHIST) da Universidade Federal do Pará (UFPA), pós-graduado em
Amazônia, História, Espaço e Cultura pelo Centro Universitário FIBRA, e
graduado em Licenciatura em História pela Faculdade Estácio de Castanhal.
EXAME. Tóquio se torna 1º distrito a reconhecer uniões gay no Japão.
2015. Disponível em: https://exame.com/mundo/toquio-se-torna-1o-distrito-a-reconhecer-unioes-gay-no-japao/
GREEN, et al. História do Movimento LGBT no
Brasil. 1.ed. São Paulo: Alameda, 2018.
G1. Sapporo
se torna a 1ª grande cidade japonesa a reconhecer uniões civis LGBT. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/sapporo-se-torna-a-1-grande-cidade-japonesa-a-reconhecer-unioes-civis-lgbt.ghtml
HYPENESS. Japão transforma em crime a prática de ‘tirar
do armário’ pessoas LGBTQ+. 2020. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2020/06/japao-transforma-em-crime-a-pratica-de-tirar-do-armario-pessoas-lgbtq/
TAGAME, Gengoroh. O marido do meu irmão. Vol. 1. Tradução de
Caio Suzuki. Barueri, SP: Panini Brasil, 2019.
TAGAME, Gengoroh. O marido do meu irmão. Vol. 2. Tradução de
Caio Suzuki. Barueri, SP: Panini Brasil, 2019.
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Olá, parabéns pelo ótimo texto!
ResponderExcluirÉ interessante notar o quanto uma obra pode nos revelar sobre a cultura de um povo, nesse caso como os japoneses lidam com a diversidade sexual, algo que, pela descrição do texto, é muito bem trabalhado pelo autor nesse mangá. Também é interessante constatar que, apesar de toda a intolerância prevalente no Brasil, existem países e culturas onde a LGBTfobia se acentua mais, devido aos padrões heteronormativos impostos. Mangás como esse de Gengoroh Tagame podem levar as pessoas a repensarem os valores predominantes na sociedade, que muitas vezes ameaçam a liberdade do outro. Assim, gostaria de saber do autor como ele avalia a recepção de obras como essa no meio otaku e público de mangás, em geral, há alguma resistência e preconceito a materiais como esse?
Dalgomir Fragoso Siqueira
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirBoa tarde, Dalgomir. Existe uma entrevista de tradução livre e autorizada pelo blog Manga Comics Manga realizada por Debi Aoki, no ano de 2015. Nela Gengoroh responde perguntas sobre mangás Gay Comics (também categorizados de “bara”) e BL’s. A entrevista está disponível no site blyme-yaoi.com, e lá ele responde diversos questionamentos sobre os mangás que abordam as relações homoeróticas e homoafetivas, bem como o próprio mangá O Marido do Meu Irmão.
ExcluirEle diz na entrevista que o objetivo
[...] é que leitores hétero entendam que a vida social gay japonesa é bastante normal. Muitos japoneses heterossexuais provavelmente não sabem que conhecem homens gays, ou nunca conheceram uma pessoa gay e dizem que nunca viram uma, ou eles não sabem como são as pessoas gays. Para eles (conhecer uma pessoa gay) é como encontrar um panda na natureza. (risos) (Blyme, 2020).
Completa que,
Para o público gay, quero que eles vejam que sou obviamente um homossexual assumido. Todo mundo sabe que sou gay e faço quadrinhos como artista gay. Eu quero que os gays, especialmente os jovens gays, vejam que é possível ser publicado em uma revista hétero e convencional, que se assumam completamente e sem medo. Eu quero que eles ganhem um pouco de coragem com isso (Blyme, 2020).
E, no primeiro volume da obra ele declara que foi uma surpresa a recepção do mangá pelo público, completando que nunca imaginou que a história teria uma aceitação favorável, o que possibilitou o lançamento do segundo volume encadernado.
Pedro Antonio de Brito Neto.
Parabéns pelo texto, Pedro!
ResponderExcluirEu não conhecia o mangá em questão e fiquei feliz de ver essa abordagem mais problematizadora do preconceito arraigado na sociedade japonesa contra aqueles que destoam da norma estabelecida. Existe no mercado de mangás setores voltados aos relacionamentos homoafetivos, como os yaoi e os yuri, mas só recentemente seus enredos tem conseguido fugir da pura fetichização erótica. Então é interessante analisar um título já relativamente antigo e que trata do assunto com essa delicadeza.
Deixo aqui algumas recomendações, caso interesse, de outros materiais (bastante populares até) interessantes que passaram pelas minhas mãos ao longo dos anos e pelo menos pincelam essa questão dos marginalizados socialmente: os livros "Kitchen", de Banana Yoshimoto e "Após o Anoitecer", de Haruki Murakami e o reality show "Queer Eye", que tem uma temporada específica no Japão, onde são abordadas algumas dessas questões de sexualidade e homossexualidade.
Um abraço,
Esther Corrêa Cruz
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAgradeço-a pela leitura e pelas indicações, Esther. Confesso que não conhecia os livros que citou, no entanto, já assisti a alguns episódios de “Queer Eye”, mas a temporada que se passa no Japão ainda não assisti. Agradeço novamente pela atenção em me recomendá-lo. Está na minha lista agora.
ExcluirPedro Antonio de Brito Neto
Parabéns, Pedro. O texto está muito claro e traz uma discussão muito atual, sobretudo ao mostrar o quanto a literatura, a educação e as artes podem se unir no trabalho e na luta pela diversidade sexual e cultural no mundo atual.
ResponderExcluirMas, com relação ao mesmo mangá, como você enxerga, a partir dele, as discussões sobre as masculinidades hegemônicas na fala do irmão.
Desde já, muito obrigada.
Laís Prestes Redondo
Olá, Laís. Obrigado pela pergunta. Bem, quero começar a resposta falando um pouco sobre “masculinidade hegêmonica”, já que esse é um conceito que não foi trabalhado no texto. É necessário que fique claro para os leitores dessa comunicação que “masculinidade hegemônica”, dentro dos estudos de gênero, é a configuração social que determina os homens como seres superiores, e as mulheres, seres subordinados. O objetivo desse conceito é explicar os mecanismos e condicionantes que tornam o ser masculino superior ao ser feminino.
ExcluirPara um aprofundamento maior indico a leitura de dois textos, um é “Masculinidade hegemônica: repensando o conceito” de Robert W. Connell e James W. Messerschmidt, e o outro é “A (re)produção das masculinidades hegemônicas: homens, famílias populares e violações dos direitos humanos” de dois autores brasileiros, Christina Nogueira e Marcelo Miranda.
Agora, respondendo a sua pergunta: não saberia dizer se Gengoroh Tagame se apropriou do conceito de “masculinidade hegemônica” e aplicou no mangá, principalmente no personagem do Yaichi-san (o irmão). Podemos afirmar que a configuração da maior parte das sociedades contemporâneas, isso inclui a sociedade japonesa, é de uma sociedade em que os homens estão como protagonistas, ou seja, hegemônicos no meio social, no trabalho, no ambiente familiar etc.
Mas levando em conta que existem masculinidades hegemônicas, isto é, são múltiplas. A configuração do Yaichi-san, para mim, é questionadora para o conceito, considerando que ele é pai solteiro, divorciado, administra o lar sozinho, e ao longo da leitura do mangá podemos observar sua paternidade é posta à prova, seja pela sua ex-esposa, como também pelo professor de sua filha Kana-chan.
Pedro Antonio de Brito Neto
Olá, parabéns pelo texto!
ResponderExcluirAlém de ser uma temática necessária de ser trabalhada, é interessante ver como diferentes fontes podem ser úteis para a compreensão e análise da temática.
Atualmente, faço uma pesquisa de iniciação científica com relação a presença e circulação de mangás no Brasil, mas posteriormente também pretendo partir para uma análise de alguma obra em si. Gostaria de saber, se existe e é possível indicar algum referencial metodológico para com a análise específica de mangás, ou se é necessário aplicar e ‘’adaptar’’ as práticas já desenvolvidas para com a análise de quadrinhos ocidentais.
Novamente, grato pelo seu texto.
Gabriel Silvestre Ferraz
Olá, Gabriel. Então, mangás e histórias e quadrinhos são análogos, a diferenciação existente entre eles são, no caso, o local de produção, o contexto das histórias, bem como também o estilo dos desenhos. Acredito que os escritos Sônia Luyten lhe serviriam muito bem, ela é uma pesquisadora brasileira especializada em histórias em quadrinhos e mangás. Alguns de seus principais livros são: Histórias em quadrinhos: Leitura crítica (1989), Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses (1991) e Cultura Pop japonesa: anime e manga (2006).
ExcluirAtensiosamente,
Pedro Antonio de Brito Neto.
Pedro, que texto instigante, reflexivo e desafiador. Parabéns pela escolha da temática. Não conhecia esse mangá, e sua discussão problematizadora instiga também tantas outras questões, tudo isso com os dados que você traz através das notícias jornalísticas sobre o Japão contemporâneo, considero um trabalho muito completo.
ResponderExcluirInteressante quando colocas no texto o choque cultural entre Yaichi com Mike, e para você, quais choques culturais enquanto pesquisador você encontrou nessa temática? Quais aproximações e/ou distâncias podes citar contextualizando a situação da comunidade LGBTQIA+ no Brasil e no Japão?
Matheus Felipe Araujo Souza