Rafael Victor Soares Amaral e Jheniffer Caroline Oliveira Souza

 

AKIRA (1988) COMO UM MARCO DO CYBERPUNK NA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA: REPRESENTAÇÃO DA MEMÓRIA NIPÔNICA


 

Introdução

Na década de 1980, a ficção científica se consagrou um sucesso nas bilheterias, e “Akira" [1988] é um bom exemplo desses sucessos. Sendo um dos representantes dos chamados animes neste gênero, é baseado no mangá de mesmo nome, por autoria de Katsuhiro Otomo. Para muitos, "Akira" é um ícone cult dos animes e que ainda influencia a cultura pop. Em sua narrativa, o filme nos apresenta a cidade de Tóquio no ano de 1988 enquanto sofre uma explosão misteriosa. Em seguida, novamente nos é apresentada a mesma cidade, porém chamada de Neo-Tóquio. Onde as alterações não se restringiram apenas ao nome, indo desde mudanças em seu relevo ocasionadas pela explosão, até uma aparente reconstrução e transformação tecnológica que é mostrada no decorrer do filme. Neste contexto, onde ambientam o filme no ano de 2019, acompanhamos dois jovens chamados Kaneda e Tetsuo, membros de uma gangue de motoqueiros. Os jovens se envolvem em um conflito com uma gangue rival, o que vai resultar em um acidente entre Tetsuo e uma criança misteriosa que aparece no meio da rua. Ambos são levados pelas autoridades, e a partir disso o longa se desenrola em cima da busca feita por Kaneda para encontrar seu amigo. Paralelo a isso, a narrativa desenvolve o mistério sobre "Akira", que aos poucos vai sendo revelando.

 

A animação cinematográfica como fonte histórica                                                       

Através da análise desse filme, objetiva-se explorar um perceptível traço da memória japonesa relacionada ao fim da Segunda Guerra Mundial presente no filme. Levando em conta que se trata de uma análise fílmica sobre uma representação, adotando tal perspectiva para análise, ao reconhecer as inúmeras interpretações possíveis para uma produção cinematográfica. Pretende-se também assimilar a relação desta representação com o subgênero “cyberpunk”, explorando a importância deste para compor não só a estética dos personagens e cenário, mas também o conceito narrativo que é caro ao debate.

A discussão teórica terá o intuito de pensar a relação dos conceitos de representação e cyberpunk nas produções de cinema como fonte documental. Partindo da ideia das produções cinematográficas como fontes historiográficas, vendo o cinema como agente da história e produto da história, conforme o historiador José de Assunção Barros descreve:

“Se o cinema é ‘agente da história’ no sentido de que interfere nela direta ou indiretamente, ele também é interferido todo o tempo pela história, que o determina em seus múltiplos aspectos. Vale dizer, o cinema é ‘produto da história’ – e, como todo produto, um excelente meio para a observação do ‘lugar que o produz’, isto é, a sociedade que o contextualiza, que define sua própria linguagem possível, que estabelece seus fazeres, que institui suas temáticas”[Barros, 2011, p. 180].

Desta maneira “Akira” será pensado como produto da história, para através de sua observação compreender o lugar de onde foi produzido. Questão, que buscará ser respondida através da relação entre ficção cinematográfica e perspectivas do que seria o real. Não é por acaso a presença de uma explosão na primeira cena, sendo um evento importante para a narrativa do filme. O elemento da explosão carrega uma importância para o roteiro, que intencionalmente ou não, tem relação com a história do Japão referente aos eventos de 1945 em Hiroshima e Nagasaki. De certa forma, colabora até mesmo para a identidade dos personagens no filme construída para refletir traços da sociedade japonesa. Não se trata de afirmar a intenção que o Katsuhiro pretendia com a cena, trata se de uma perspectiva que pode ser explorada a partir do contexto em que a obra foi produzida, que acredita-se influenciar nas decisões por trás da produção. Como afirma Barros [2011]: “Resta dizer que é preciso captar com método não apenas o que é intencional no documento fílmico, mas também aquilo que é não intencional, involuntário, inconsciente, casual” [Barros, 2011 p. 196].

O que o filme apresenta ao ser construído, com a união de elementos imagéticos, deve ser analisado a partir das representações que carrega. Como afirma a autora Mônica Korniz [1992]: “[...] a imagem propõe um grande número de mensagens, cabendo ao historiador reagrupar certos elementos icônicos selecionados dentro de um conjunto maior” [Korniz, 1992, p. 10 – p. 11]. A leitura de imagens em movimento demanda de um senso específico de atenção do historiador para a parte técnica, como: posição de câmera, cores, iluminação, sonoridade, linguagem e outras questões técnicas específicas na construção do filme, que agregam para a leitura do historiador. Não pretende-se aprofundar nas questões técnicas presentes em “Akira”, porém é importante mencionar a sua função na construção do produto histórico, que é resultado do seu contexto. Logo: “[...], não importa se o filme é documentário ou ficção – ele sempre será um produto histórico que permite uma determinada leitura desta mesma história” [Barros, 2011 p. 195].

Compreender o conceito de representação é um pequeno desafio, visto que se trata de um conceito amplo em suas dimensões. Por isso será priorizada uma interpretação sobre a possível representação do “real” dentro do filme relacionado às suas possíveis mensagens, exaltando a interação entre o transmissor [filme] e o receptor [espectador]. Conforme afirma a autora Hanna Fenichel Pitikin [2006]: “A representação é em grande medida, um fenômeno cultural e político, um fenômeno humano” [Pitikin, 2006, p.16].  A representação teria como função transmitir informações culturais e políticas, do que compõe a perspectiva daquele que pratica o ato de representar.

A análise tentará explorar não apenas a produção da obra e a relação mantida com seu contexto, mas além disso será dedicada atenção a relação que o espectador tem com ela. Pois não se trata só do processo de consumo do que é transmitido, deve-se lembrar que o ser humano não é totalmente passivo, e a maneira a qual recebe as informações e se relaciona com o filme, é particular. Partilha-se da ideia de Rosa Inês de Novais Cordeiro [2005], ao dizer que: “Desta maneira, os sujeitos envolvidos na produção e recepção do artefato são de naturezas marcadamente diversa e ímpar, cujos pontos de vista sobre a obra cinematográfica navegam no domínio do subjetivo” [Cordeiro, 2005, p.91].

Não se pode dizer ao certo qual é a intencionalidade por trás do filme como produto histórico, e nem se pode confirmar exatamente a reação do público. Ou seja, não se pode compreender tudo o que a produção apresenta. A demanda a ser cumprida pelo historiador irá depender apenas do seu recorte e da relação e recepção que ele próprio tem com a produção.

 

Akira: Um marco no cyberpunk como produto da história                                                  

O filme Akira notadamente se relaciona a memória dos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, juntamente com suas consequências para o Japão. A continuidade que tais consequências tiveram na história do país, fizeram com que o filme “Akira” se tornasse um produto dessa história. Enfim, não se trata apenas do transmissor e receptor da representação, como nas palavras do Dominique Vieira Coelho dos Santos [2011]: “[...]‘há sujeito, há objeto, há representações’, uma alternativa ao pensamento tradicional de que: ‘sujeito representa o objeto’” [Santos, 2011, p. 48 -  p. 49].

Dentro do que há de ser representado, o subgênero da ficção científica cyberpunk é o que torna possível a identidade do que é “Akira”. Subgênero popular nos contos na década de 1960, responsável por diversos sucessos dos anos 1980, agregando em suas narrativas inéditos debates políticos, filosóficos, existenciais, sociais, culturais e até mesmo alguns de cunho religioso. O cyberpunk teve sua notoriedade nos contos do escritor Philip K. Dick, como por exemplo o sucesso de sua obra “Do Androids Dream of Eletric Sheep?”, obra que serviu de inspiração para o clássico cyberpunk do cinema “Blade Runner”. Agora definindo de modo específico, segundo a autora Hanna Esperança [2016]:

“Subgênero da ficção científica, o cyberpunk é considerado seu extremo, preferindo nos mostrar um futuro distópico, pós-apocalíptico e claustrofóbico, com superpopulação, drogas, consumismo desenfreado, massas marginalizadas, corporações autoritárias e o desafio que os humanos têm de enfrentar tecnologias superavançadas ao mesmo tempo em que já vivem num mundo onde são completamente dependentes dela” [Esperança, 2016, p. 70].

O “High-tech e low-life” é o conceito básico para se entender do que se trata o cyberpunk. E conforme Victor Luiz da Silva Maia [2017] afirma:

“Outro aspecto muito relevante no cyberpunk é a crítica ao capitalismo, observada na expressão High Tech, Low Life (alta tecnologia, vida ruim) que representa o futuro (característico desse gênero) no qual a sociedade é dotada de grandes avanços tecnológicos, mas ao mesmo tempo é dominada por grandes grupos empresariais, que substituindo o Estado, acabam por contribuir enormemente para a degradação do meio social” [Maia, 2017, p. 24].

Nos anos 1980 Akira se tornou um marco no cyberpunk, se tornando um produto da história japonesa. O contraste entre a alta tecnologia e a baixa qualidade de vida, no filme pode ser pensada como uma crítica. Ao passo que há o questionamento sobre tecnologia como significado de desenvolvimento. Até onde a ambição humana irá e até que preço pagará? Aplicada essa ideia no filme, é questionado o que pretenderiam com tanto poder. E aplicada essa mesma pergunta ao ocorrido em Hiroshima e Nagasaki, entende-se que o medo e ansiedade são sentimentos pertencentes à memória coletiva. Pensando nesta provocação, conforme Michael Pollak [1992]:

“A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa [...] Se podemos dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada, podemos também dizer que há uma ligação fenomeno-lógica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade” [Pollak, 1992, p. 204].

Assim como a representação e o cinema, o cyberpunk necessita de um breve apoio no que tange a memória. A relação da obra com o desfecho da Segunda Guerra, é o que possibilita a existência do produto histórico a partir da memória. O cyberpunk se origina disso, dos desdobramentos da memória em que embora todo o avanço tecnológico possa tornar o ambiente futurista, a memória estará presente na sociedade ao mesmo tempo que o medo de perdê-la.

 

Análise iconográfica da produção                                                                                    

A base teórica para análise das imagens, evocará os três níveis de análise iconográfica estabelecidos segundo Johanna W. Smit [1996]:

“Nível pré-iconográfico: nele são descritos, genericamente, os objetos e ações representados pela imagem [...] Nível iconográfico: estabelece o assunto secundário ou convencional ilustrado pela imagem. Trata-se, em suma, da determinação do significado mítico, abstrato ou simbólico da imagem, sintetizado a partir de seus elementos componentes, detectados pela análise pré-iconográfica [...] e o Nível iconológico: propõe uma interpretação do significado intrínseco do conteúdo da imagem. A análise iconológica constrói-se a partir das anteriores, mas recebe fortes influências do conhecimento do analista sobre o ambiente cultural, artístico e social no qual a imagem foi gerada”[Smit, 1996, p. 30].  

A análise das imagens auxilia no processo de interpretação da obra. Pois como afirmado por Maria Emilia Sardelich [2006]: “Ler uma imagem historicamente é mais do que apreciar o seu esqueleto aparente, pois ela é construção histórica em determinado momento e lugar, e quase sempre foi pensada e planejada” [Sardelich, 2006, p. 457].

Nos primeiros segundos do filme, a cena apresentada informa se tratar da cidade de Tóquio, na data de 16 de julho de 1988. E em seguida acontece uma explosão. À medida que a explosão se estende, a cidade de Tóquio é consumida. A ação destrutiva da energia começa a ganhar espaço no centro da câmera, conforme apresentado na Figura 1:

 

Figura 1: Cena de AKIRA. Fonte: AKIRA. Direção: Katsuhiro Ôtomo. Produção: Ryôhei Suzuki - Shunzo Kato, 1988. 2 hrs, 04 min, 28 segs.

 

Levando em consideração o plano aberto de câmera com tamanho e brilho do corpo no centro, o que chama a atenção é a explosão em sua magnitude. Entende-se de forma simples que a cidade de Tóquio está sendo destruída. A data apresentada no filme é a de 16 de julho de 1988, que talvez seria uma alusão à 16 de julho de 1945 data do teste Trinity. Para que o espectador baseie sua noção destrutiva de uma bomba atômica e aplique ao entendimento da primeira cena. Além da ação interpretativa, ocorre o trabalho visual, em que a iconografia da cena se alinhe ao fato. Para fins de análise conjunta à discussão selecionou-se a figura 2:

 

Figura 2: Registro feito durante em um milésimo de segundo da explosão nuclear realizada pelo teste Trinity. Fonte: Acesso em: agosto de 2020. Disponível em:<https://www.bbc.com/mundo/amp/noticias-internacional-53437927>


Detalhes como o já mencionado plano aberto se assemelham à base cercada de fumaça e o formato da energia acumulada na explosão. Aplicando em cena o impacto referente a destruição e a memória, pois sabe-se que após o teste o uso da bomba atômica como arma de guerra e demonstração de poder, era certo. No filme, segundos após a explosão aparece uma visão aérea de Tóquio. A cidade se encontra diferente, até mesmo se formou uma baía na cidade. E na tela novamente é mostrada uma informação de que há uma transição de 31 anos para o ano de 2019 em Neo-Tóquio, depois de uma chamada “Terceira Guerra Mundial”. Em sua narrativa, Akira apresenta Tóquio como a cidade devastada, e não Nagazaki ou Hiroshima por exemplo. A escolha da cidade de Tóquio para o filme é instigante, mesmo que foi intensamente bombardeada durante a Guerra. Os eventos fictícios de 1988 representados no filme, podem ser vistos como uma tentativa de representar algo próximo ao imaginário que se tem da reta final da Segunda Guerra. O fato de mencionar a Terceira Guerra Mundial reforça um medo presente no período da Guerra Fria, pois já se tinha noção do quanto o poder bélico mundial poderia se desenvolver ainda mais.

Os eventos em “Akira” desenvolvem bem suas inspirações, mas ainda falta mencionar um que é crucial para a análise, o próprio Akira. Dentro das possíveis leituras em kanjis, que não pretende-se aprofundar, Akira remete ao iluminado, luminoso ou brilhante. E com todo o mistério do longa, algumas questões se esclarecem. Mas para definir o que é Akira a seguinte fala da personagem Kei ajuda a esclarecer:

“Akira é energia absoluta. O homem faz muita coisa durante a vida, descobrir algo, construir casas, motos, pontes, cidades e foguetes. De onde vem o conhecimento dessa energia? O homem era uma espécie de macaco, antes era um réptil, um peixe e antes era um plâncton ou ameba. Isso significa que todos esses seres possuem o mesmo potencial? Então, será que a água e o ar também possuem genes? Se isso for verdade, que tipo de segredo contém? O início do universo ou mais além? Será que existe alguma coisa mais além? Talvez todos tem essa memória. É como se a ordem enlouquecesse, e então uma ameba adquirisse forças de seres humanos. As amebas não constroem casas, as amebas só comem o que está a sua volta. No passado homens quiseram controlar o poder a mando do governo, mas aí eles falharam, falharam e causaram a destruição de Tóquio. O poder ainda está além! ” [Akira, 1988].

Não é difícil de relacionar este monólogo com o princípio básico da energia contida em um só átomo. Dela os homens constroem e destroem. A grosso modo, nesta situação é esclarecido o que é Akira dentro do filme. Para fins da discussão, as figuras 3 e 4 de forma visual ajudam a notar o segredo por trás do Akira:

 

Figura 3: Cena de AKIRA. Fonte: AKIRA. Direção: Katsuhiro Ôtomo. Produção: Ryôhei Suzuki - Shunzo Kato, 1988. 2 hrs, 04 min, 28 segs.

Figura 4: Projétil utilizado no teste Trinity. Fonte: acesso em: agosto de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/mundo/amp/noticias-internacional-53437927>

 A forma estética apresentada na figura 3, refere-se à capsula que armazenaria os resquícios energéticos de “Akira”. Notadamente, essa forma se assemelha ao protótipo da bomba atômica utilizada no teste Trinity apresentado na figura 4.  A esfera ligada em fios, responsável por desencadear tal poder seria uma definição de semelhança entre as duas imagens, mesmo que suas diferenças sejam claras. Uma se trata de um teste de energia nuclear e outra ser trata de uma cápsula de fragmentos de um corpo. O que se pretende representar na ficção não é só o poder, mas como ele pode ser utilizado. E as consequências na memória que uma explosão como em ambos os casos pode causar.

 

Conclusão                                                                                                                            

Medo ou ansiedade resumem bem o cenário pós apocalíptico em Akira, pois o tudo que a explosão trouxe de herança para os japoneses, se reflete neste produto da história, no filme. Assim como quem tem a experiência de assisti-lo. Por fim, a memória da bomba atômica já se inclui de forma significativa para a história do Japão. A propósito, a grande questão da recuperação de Neo-Tóquio reflete bastante a recuperação do Japão após os episódios nucleares.

De acordo com Koich Iwabuchi [2002]: “Such discourses started in the 1970s, when many Western scholars advocated that the West should learn lessons from the Japanese economic success” [Dore 1973; Vogel 1979, Apud Iwabuchi, 2002, p. 23]. Ninguém negaria a potência econômica a qual o Japão se tornou, décadas após ter sofrido dois ataques nucleares. É importante lembrar que mesmo após a explosão o país se torna além de tecnologicamente avançado, globalizado, o que provoca a interpretação supostamente equivocada de visão ocidentalizada sobre o Japão. O que dá abertura para se pensar através do High-tech low-life. Onde as vidas cercadas pela alta tecnologia, que só avança e não ajuda, tornam a baixa qualidade de vida uma preocupação. É somente uma crítica presente na época que diz respeito a ascensão do país após sua destruição, que deixou sua marca no tempo.

Ao criar o roteiro do filme e seu enredo em mangá, Katsuhiro seria influenciado por suas memórias e perspectivas sobre o final da Guerra.  Pensando de forma mais abrangente, no filme toda a equipe envolvida na produção cinematográfica também contribui para a identidade da obra. E dentre todas essas pessoas com pontos de vista diferentes, o que eles tinham em comum esboçaram neste filme. Neste que por ser um anime, carrega uma identidade cultural conectada a sua história.

 

Referências

Rafael Victor Soares Amaral é graduando em História na Universidade Estadual de Montes Claros.

Jheniffer Caroline Oliveira Souza é graduanda em História na Universidade Estadual de Montes Claros.

 

AKIRA. Direção: Katsuhiro Ôtomo. Produção: Ryôhei Suzuki - Shunzo Kato, 1988. 2 hrs, 04 min, 28 segs.

BARROS, José. Usos historiográficos de fontes fílmicas. Comunicação & Sociedade, Ano 32, n. 55, jan/jun. 2011.

CORDEIRO. Rosa Inês de Novais. Análise e representação de filmes em unidades de informação. Ci. Inf., Brasília, v. 34, n. 1, p.89-94, jan./abr. 2005.

CORDLE, Daniel. Cómo fue el ensayo com la primeira bomba atômica hace 75 años (y como cambió el mundo). BBC News. 16 de julho de 2020. BBC Mundo. Acesso em: agosto de 2020. Disponível em:<https://www.bbc.com/mundo/amp/noticias-internacional-53437927>.

ESPERANÇA, Hanna. Anime Cyberpunk. Hantari. v, 3. n, 3. Paraná: Curitiba V, 2016.

IWABUCHI, Koichi. Recentering Globalization - Popular Culture and Japanese Transnationalism. Duke University. Durham and London. 2002.

KORNIS, Mônica. História e cinema: um debate metodológico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n 10,1992. P 237-250.

MAIA, Victor Luiz da Silva. O perfil Epistemológico da tecnologia em obras da ficção científica. 2017. 65 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH, Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

PITIKIN. Hanna Fenichel. Representação: Palavras, Instituições e Idéias. Lua Nova, São Paulo, 67: 15-47, 2006.

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos históricos, Rio de Janeiro, vol 5, n. 10, 1992. P. 200-220.

SANTOS. Dominique Vieira Coelho dos. Acerca do Conceito de Representação. Revista de Teoria da História Ano 3, Número 6, Universidade Federal de Goiás. Goiás. Dezembro de 2011.

SARDELICH, Maria Emilia. Leituras de imagens, cultura visual e prática educativa. Universidade Estadual de Feira de Santana – BA, 2006.

SMIT, Johanna W. A representação da imagem.  Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. v, 2. n, 2.  Rio Grande do Sul, 1996.

13 comentários:

  1. Olá Rafael e Jheniffer, parabéns pelo trabalho. Gostaria de perguntar como vocês compreendem a questão do autoritarismo em Akira e se durante a pesquisa vocês acharam algumas referências autoritárias que poderiam ser tratadas como influências para o autor na obra? - Lucas Yashinischi Batista

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    1. Olá Lucas obrigado pelo elogio. Primeiro temos que dizer que não coletamos referências sobre influência do autoritarismo em Akira. Embora para minha monografia isso já seja algo que penso a respeito, pois o filme é meu objeto de pesquisa e este texto é somente uma parte dele. Enfim, eu e Jheniffer temos um interesse particular na história do séc. XX, e por isso já percebemos não só a memória dos desastres mas também a presença autoritária do estado, tanto por Neo - Tóquio ter seu conselho político que é ignorado pelo personagem "Coronel" que chega a ordenar a morte de um político, quanto pela forma a qual a força policial repreende as manifestações.
      Por sua produção e narrativa se situarem em 1988, o temor da Guerra Fria era bastante presente. Adicionar à narrativa do filme uma Terceira Guerra Mundial com direito a catástrofe e tudo mais, me faz crer que há uma grande possibilidade do seu ambiente ter sofridos influências em sua construção.
      Então te digo que vejo a questão do autoritarismo em Akira como um plano de fundo plausível para contribuir ao que há de caótico, sendo parte do low-life no high-tech/low-life. E como uma das pontes que conectam a memória que se tem de estados autoritários e “potências”, com o imaginário do presente. Questão que os fãs de ficção científica são apaixonados, pois na maioria das vezes, no gênero, as motivações se resumem a poder.
      Rafael Victor Soares Amaral

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  2. Ótima análise! Já que Akira pode ser entendido como a força vital capaz de construir e destruir, gostaria de saber se cabe interpretar, e se concordam com tal possibilidade, a figura do Tetsuo Shima como uma esperança de reconstrução da identidade japonesa já que, ao final do anime, ele se une à energia suprema a fim de tomar conhecimento de seus poderes e ampliá-los, de maneira consciente e controlada.

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    1. Comentando novamente apenas para estar em acordo com as regras do debate. Percebi que não assinei meu comentário. Sendo assim, segue a retificação:

      Ótima análise! Já que Akira pode ser entendido como a força vital capaz de construir e destruir, gostaria de saber se cabe interpretar, e se concordam com tal possibilidade, a figura do Tetsuo Shima como uma esperança de reconstrução da identidade japonesa já que, ao final do anime, ele se une à energia suprema a fim de tomar conhecimento de seus poderes e ampliá-los, de maneira consciente e controlada.

      Att,
      Ana Paula Alvarez Ribeiro Lopes.

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    2. Obrigado pelo elogio Ana Paula, e esta é uma pergunta difícil! Há várias possibilidades de compreender o "Tetsuo", "Akira" também pode ser interpretado de outras formas, mas você aplicou bem a relação entre eles. Para mim, Tetsuo não seria uma esperança de reconstrução da identidade japonesa, e isso se dá ao fato de tanto o personagem quanto o Japão já possuírem identidade própria. Pensar no personagem Tetsuo se unindo à energia suprema pode nos remeter a uma possível metáfora, novas experiências serão vividas pelo Tetsuo, e mesmo que ele queira se sentir mais poderoso, ou evoluir a ponto de se unir à uma força além da compreensão humana, ele continuará sendo o Tetsuo. Questão que fica implícita pela presença de suas memórias vistas por Kaneda durante os minutos finais do filme.
      Essa metáfora aplicada ao Japão, pode ser pensada sobre suas mudanças às quais o país passou após os eventos da Segunda Guerra Mundial, se tornando referência e modelo capitalista pelo seu alto desenvolvimento tecnológico aliado ao seu engrandecimento econômico.
      Outra questão que me faz discordar da reconstrução da "identidade japonesa" é justamente por causa do termo, tive a oportunidade de ouvir e refletir com alguns colegas que Também estudam Japão, e acho até que na historiografia já exista críticas à essa visão mais ocidentalizada sobre a sociedade japonesa, tal qual normalmente assumirmos como verídica. Por exemplo, há uma discussão sobre a rendição do Japão, questão que para muitos de nós é consolidada pelas bombas em Hiroshima e Nagasaki, mas que têm-se uma discussão que aborda a rendição devido o avanço de tropas soviéticas (o professor Icles do canal “Leitura ObrigaHISTÓRIA” tem um vídeo em que aborda esta questão, recomendo, pois, acho legal de se refletir). Novamente digo, há discussões, existem documentações para serem analisadas e etc. E sempre é bom pensar também como este campo é muito específico no Brasil, com poucos pesquisadores, ao passo que descobrimos mais coisas do ainda tão pouco pesquisado Japão.
      Claro que o país sofreu diversas influências do ocidente ou especificamente dos Estados Unidos, mas o Japão ainda continua com sua cultura e etc. Sabendo absorver o que chega ao seu território e utilizando ao seu favor. Um exemplo para isso são os mangás, onde o aclamado Osamu Tezuka aplicou o que estudou fora do país, e que deste modo deu inicio aos mangás que conhecemos hoje, entretenimento que consequentemente se tornou investimento de uma indústria em específico no Japão, se desdobrando não só na produção de quadrinhos mas também de animês e etc.
      No fim das contas ao se incluir nas relações internacionais, o Japão não deixou de ser Japão. Porém acreditamos também que a presença da “perca de identidade”, seja por causa da ambientação cyberpunk, onde as industrias e o consumo são mais importantes do que o país ou o sentimento de nacionalidade.
      Na minha opinião, concluo que a “identidade japonesa” não se relaciona com o “Tetsuo”, com “Akira”, e até mesmo do Japão. O Japão em Akira é o único lugar que era possível para a sua história, sem Japão sem Akira, sem Akira sem reflexões que vão além do Japão, podendo chegar à escala mundial.
      São inúmeras coisas a serem pensadas, mas creio que a reconstrução da “identidade japonesa” (pelo menos neste momento) não seja algo tão interessante para se pensar sobre a obra, mas é um caminho. Por isso deixo aqui dois questionamentos para refletirmos: Qual identidade o Japão deveria reconstruir? E por que?
      Rafael Victor Soares Amaral

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  3. Boa análise deste filme que é um clássico da cultura pop, o gênero cyberpunk tem sido um grande expoênte nas últimas décadas. Sobre o filme, Akira reflete bem a relação do povo japonês ao pós-guerra e o trauma do terror atômico, aliado a isto, eu gostaria de saber como você analisa o reflexo da questão social apresentada no filme, uma sociedade a beira do colpso com a realidade japonesa da época?

    Afranio Junior de Melo Barros

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    1. Obrigado pelo elogio Afranio. Este subgênero permanece sendo como uma tendência predominantemente nos filmes. Compreendemos que a questão do colapso social diz muito sobre a influência do capitalismo no Japão e o medo das consequências do grande crescimento do país.
      O anseio pelo desenvolvimento, instabilidade política e cultura de consumo alienante são coisas que levamos em conta para fazer uma reflexão da questão social do filme e aplicá-la à questão social do país.
      O Japão se reconstruiu, trabalhou bastante nisso, o trauma que cercava o país se fez presente durante a Guerra Fria, enquanto se transformava em um dos países mais fortes na economia mundial.
      A grande mudança do Japão não foi um milagre, mas o que interpretamos neste filme pode ser uma crítica, que busca refletir até onde a tecnologia é benéfica, e até onde o consumo é benéfico e qual o limite do "desenvolvimento". Provavelmente após o limite, o colapso.
      Rafael Victor Soares Amaral

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  4. Olá, Rafael e Jheniffer. Excelente texto. Gosto muito da adaptação de Akira (1988), anseio pela leitura dos mangás, no entanto, ainda não consegui adquirir a coleção. Lembro que quando assisti a obra fiquei maravilhado com a história, principalmente por se tratar de uma ficção científica, do subgênero cyberpunk, e por ter como plano de fundo a cidade Tóquio em um cenário pós-apocalíptico.

    Baseado na citação de Hanna Esperança, em que ela diz:

    “[...] com superpopulação, drogas, consumismo desenfreado, massas marginalizadas, corporações autoritárias e o desafio que os humanos têm de enfrentar tecnologias superavançadas ao mesmo tempo em que já vivem num mundo onde são completamente dependentes dela” [Esperança, 2016, p. 70].

    É possível pensar que já vivemos em uma realidade cyberpunk, se formos considerar a superpopulação de países como China e Índia, o tráfico e consumo excessivo de drogas sintéticas, consumismo elevado de produtos do capitalismo, e o alto avanço tecnológico em praticamente todas as áreas? Ou esse é um subgênero que só pode existir através de livros, mangás e filmes?

    Pedro Antonio de Brito Neto

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    1. Olá Pedro! Obrigado pelo elogio! O mangá (que estou lendo) e o animê são excelentes!
      Bom, da minha parte: Sim!! Ao assistir Akira, Blade Runner, Dune, Robocop, Gost in The Shell e etc. Acho que é muito possível. Pandemias, alterações no clima, escassez de matéria prima, superpopulação, negligência com a natureza, desigualdades, governos autoritários, corporativismo, avanços na tecnologia e etc. Ao mesmo tempo que me faz crer que estamos apenas no início! Incrível é pensar que na década de 1960, o cyberpunk já começava a ser imaginado.
      Este subgênero pode existir em produções fictícias, mas não podemos esquecer de que para todas produções fictícias há influência de perspectivas! E Akira é um exemplo disto.
      Rafael Victor Soares Amaral

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