A INFLUÊNCIA DA HERANÇA ARTÍSTICA PORTUGUESA EM TERRITÓRIO INDIANO
Os portugueses
tiveram a oportunidade de disseminar grande parte de suas culturas em virtude
das largas conquistas que realizaram através das grandes navegações. Essa
considerável expansão, deu-se também com mais agilidade em virtude do cômodo
aspecto geográfico que facilitou em muito o êxito dessa expansão. Nesse
contexto, este trabalho vem refletir sobre uma das culturas difundidas pelos
portugueses, que é a Arte, em território indiano, a saber: no estado de Goa. Nossa análise inicia introduzindo
alguns conceitos sobre a importância da Arte e como ela pode contribuir para a
formação do cidadão, seguido de alguns referenciais de autores que tratam do
assunto, acrescido das considerações finais.
Introdução
Não é injusto dizer que a Arte é um fator de fundamental importância para a vida do ser humano, pois através dela o indivíduo tem a oportunidade de estar em contato com diversas formas de manifestações, além do mais, conhecer expressões que só seria possível através dessa vertente. Convém ainda destacar que, o leque artístico é vasto. Segundo a explicação da especialista Larissa Moura “Arte é uma atividade humana que se relaciona às manifestações estéticas, realizadas por artistas ao usar suas emoções, ideias e percepções. Seu principal objetivo é o estímulo a consciência dos espectadores e público. Ela tem essencial valor na formação cultura e social, visto que envolve elementos que são criações dos indivíduos que expressam uma abordagem sensível das coisas. Essas criações estão relacionadas com a arquitetura, pintura, música, teatro, dança, religião, cinema, literatura, etc.” [Moura, 2018]
Ampliando a discussão, é possível se verificar as contribuições que a Arte teve, e ainda tem no percurso histórico. Por isso, faz-se notório mencionar que “Há obras de artes que capturam toda a atmosfera de uma época, há produtos artísticos que expressam o máximo de consciência possível de um grupo social, revelam a identidade de um povo e expressam as características de um determinado tempo. Como a minúscula Monalisa. E as Artes foram sendo reconhecidas e constituídas ao longo do tempo, no desfiar das décadas, na caravana dos séculos e na marcha dos milênios. Os gregos, por exemplo, desenvolveram muito mais as esculturas e a arquitetura, tomada aqui como expressão de arte, do que a pintura, que encontraria sua plenitude no Renascimento. A compreensão dessa trajetória histórica sobre a dinâmica da criação artística é uma importante dimensão da formação cultural das crianças e dos jovens.” [Nunes, 2018, p. 01]
Outro fator que
merece destaque é o de que, como a formação artística pode contribuir para a
vida do ser humano e o tornando mais sensível às manifestações artísticas.
Sobre esse assunto, Cesar Nunes explica que “Uma
escola que tenha como proposta pedagógica a formação para a vida inteira, a
formação humana como projeto de educação plena ou integral, tem que ter um
projeto de educação artística e cultural. Não precisa ser um reducionismo a uma
disciplina curricular, embora entenda que a presença no currículo seja uma excelente
base de partida. Mas sim ter um projeto de educação visual, com quadros de
grandes pintores pelos espaços das salas, pelos corredores, pelas paredes etc.
Reeducar o olhar, conversar sobre as obras de arte, reconhecer os traços de
cada escola de pintura são as primeiras expressões da educação cultural e
artística. Isto se for para começar com a beleza sem par da pintura. Mas pode
ser pelo teatro. O importante é fazer da Escola uma galeria de Arte. Quem sabe
os alunos sentem que podem ser autores. Somente a Arte nos liberta!” [Nunes,
2018, p. 03]
Desenvolvimento
A prática artística desenvolve heranças capazes de sobreviver ao tempo e ultrapassar gerações constituindo assim parte do patrimônio histórico de uma nação. Isso, não foi diferente no que diz respeito a influência da cultura portuguesa em território indiano. Nesse contexto é relevante ressaltar que “A noção de que a cultura portuguesa, na sua forma de conceber, organizar e viver a vida, conserva memórias e traços de natureza material e espiritual da Índia e do Extremo Oriente é, sem dúvida, um estereótipo bastante difundido. E na verdade muitos são os indivíduos e as famílias portuguesas que ainda hoje guardam laços dessas ligações à Ásia, laços da herança cultural, de nascimento ou de origem familiar ou afectiva, e laços da cultura material frequentemente constituídos por bens ciosamente guardados para serem legados às gerações seguintes. De igual modo, do ponto de vista sociocultural, muitos são os museus portugueses cujos acervos de arte asiática conservam e divulgam a riqueza e a pluralidade de culturas e reflectem a ideia de prosseguir as antigas tradições portuguesas de manter e construir novos vínculos com a Ásia” [Antunes, 2018, p. 03].
Nesse sentido vale a pena enfatizar que como o teórico analisa a importância dos laços portugueses com a Índia. A partir desse pressuposto, convém situar nosso foco no estado goense. Para tanto, é importante um panorama para que entendamos melhor esse objetivo. Conforme explica o escritor Robert S. Newman, que “Goa é hoje um estado da Índia com uma superfície em torno de 3.702 km2, localizado a cerca de 435 km ao sul de Mumbai e banhado pelo Oceano Índico. Devido ao domínio português, que durou 451 anos, já foi considerado um enclave de Portugal, uma “ilha de civilização ocidental” num mar indiano. No entanto, apesar de óbvias influências ocidentais em aspetos da vida cotidiana (música, vestuário, arquitetura, comida) e apesar de sua numerosa comunidade católica, é mais produtivo e preciso considerar Goa como uma região indiana com um passado algo incomum” [Newman, 2016, p. 03].
Estudos recentes demonstram que a prática artística tem sido uma ferramenta utilizada por professores como potencializadora para o ensino da Língua Portuguesa em Goa. Nesse sentido, a professora Marina Nédio tem utilizado com frequência esse instrumento para obter êxito no ensino. Segundo esclarece a docente, a população goeana tem um afeto intrínseco com a música e dificilmente em uma família, não se encontra uma pessoa que toca um instrumento musical, isso, demonstra o afeto do povo goense pela Arte expressada através da música e além do mais, potencializa o ensino da Língua Portuguesa. Sendo assim, pode ser constatado aquilo que foi teorizado em parágrafos anteriores que a propriedade artística transformar a vida das pessoas assim como está rompendo barreiras e transformando a vida de muitas pessoas em Goa. [ATR Internacional, 2016] A professora explica também que através da música é possível facilitar o ensino até mesmo da cultura local e pelo fato de envolver a emoção o discente se abre mais para o ensino e também automaticamente se vê mais próximo dessa realidade, esses são alguns dos diversos fatores positivos que a Arte proporciona no aprendizado. Estas considerações mostram que, a Arte tem o seu lugar de destaque no ensino. Vale a pena ressaltar que esses dados são recentes, aproximadamente, quatro anos, o que torna ainda mais importante esse fator.
É preciso agora mencionar, o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Fundação Oriente, instituição direcionada para a difusão principalmente do ramo artístico em Goa. “A Fundação oriente desenvolve atividades de âmbito cultural e artístico em todo o território da Índia, embora, por razões históricas e culturais, essa intervenção incida especialmente no Estado de Goa”, ampliando essas informações sobre a referida instituição é que “O plano anual de actividades na Índia é elaborado, tendo em atenção as diferentes áreas onde se inserem os seus projectos de intervenção: apoio ao ensino da língua portuguesa nas escolas secundárias de Goa; apoio à conservação do património arquitectónico; apoio à investigação histórica e artística, através da concessão de bolsas de estudo de curta duração e longa duração a investigadores indianos e portugueses; apoio à animação cultural, através da realização de festivais, concertos e exposições de artistas indianos e portugueses e intercâmbio de artistas entre os dois países; apoios pontuais na área da música, teatro e dança e no campo editorial através da promoção do livro e do apoio à edição; cooperação com outras instituições nomeadamente na organização de seminários, conferências e outras iniciativas” [Fundação Oriente, s/d, p. 01].
Anualmente,
essa instituição realiza um evento artístico denominado “Vem Cantar”. Na edição
de 2017, o evento contou com a participação de 34 pessoas com canções solo e
oitenta e quatro grupos que se apresentaram, entre eles, tanto de dança quanto
de música. Diversas pessoas foram entrevistadas e puderam relatar a importância
dessa herança portuguesa no âmbito artístico para o povo goense. Essa mesma
perspectiva também pode ser observada nas apresentações que trouxeram vários
temas difundindo assim a Arte [Sousa, 2017].
Fonte:
https://www.itsgoa.com/vem-cantar-2018/vem-cantar-1/
- acesso em: 04 de agosto de 2020.
A imagem acima é referente a divulgação do festival que aconteceu no ano de 2018 no estado de Goa promovido pela Fundação Oriente. Isso significa dizer que o povo goense busca manter viva a interação entre o público através da Arte. A frase inspirativa que foi publicada junto ao pôster dizia “Os rouxinóis de Goa devem cantar novamente no Vem Cantar 2018” [Vem Cantar, 2018], essa epígrafe tem o objetivo de valorizar a cultura artística do local, pois a expressão “rouxinóis” remete a um pássaro que possui um belo canto “Uma das particularidades do rouxinol é que canta inclusive à noite, quando outras aves se mantêm em silêncio. O seu canto é forte, com sibilos que vão crescendo e diferentes borboteios. Quando o rouxinol se encontra num ambiente ruidoso, tem a capacidade de elevar o volume do seu canto para se fazer ouvir” [Conceito de Rouxinol, 2016].
Percebe-se que ao empregar metaforicamente o sentido do pássaro aos participantes é uma maneira de enriquecer o evento e demonstrar a importância que o mesmo possui para a cultura local. Sendo assim, observa-se quão imensa é a valorização da cultura artística, principalmente através da música. Conclui-se disso que a cultura levada pelos portugueses há vários séculos ainda mantém vivo o desejo de celebrar a arte através do canto. Sem sombras de dúvidas, isso constitui-se um legado de grande relevância herdado dos portugueses. Convém destacar ainda que essa perspectiva está em consonância com o que postula Daniel Neves, para ele “A arte é uma forma como o homem expressa os seus sentimentos, pensamentos e convicções. Além disso, pode ser entendida como o resultado de uma habilidade que resulta em uma obra com valor estético utilizada como expressão de alguma ideia ou sentimento. Na visão contemporânea, podem ser classificados como formas de arte: a escultura, a pintura, a fotografia, a música, o teatro, o cinema, a literatura, a dança etc” [Neves, 2015, p. 03].
Outra consideração importante para esse viés que não pode ficar ausente dessa análise são as considerações tecidas por Irlan Melo, para o teórico, o que foi mencionado antes, bem como a prática que está sendo desenvolvida em Goa é algo de estrema relevância, pois isso preserva a memória do país e além do mais fortalece os laços educacionais. “A arte é expressão e também cultura. A arte como expressão capacita o indivíduo a interpretar ideias através de diferentes linguagens e formas. Já a arte como cultura relembra o conhecimento da história, a trajetória de figuras públicas e a importância de cultos e tradições. Ao vivenciar a expressão, abrimos um leque de conhecimento acerca de nosso país e do mundo. Vale lembrar, que em culturas antigas, quando um povo era conquistado, a primeira coisa que se fazia era destruir todo o referencial cultural. Sem lembranças e sem expressão ficava mais fácil dominar. A verdade é que não se conhece um país, ou seu povo, sem conhecer a sua história e a sua arte” [Melo, 2018, p. 01].
As considerações
anteriores procuram evidenciar que algumas das heranças portuguesas ainda
continuam em evidência em território indiano, especificamente em Goa. Isso significa dizer que essa
herança artística tem sido até os dias atuais um mecanismo de fomentar e
difundir a cultura local. O exemplo do evento realizado anualmente pela
Fundação Oriente, é um fator de evidência e relevância, pois mantém viva a
cultura e transmite ensinos até mesmo do próprio país. Destaca-se desse
contexto, a relevância que a Arte tem, conforme teorizado e exemplificado por
diversos estudiosos da temática em questão. Nesse sentido, conclui-se aqui o
objetivo dessa análise que é o de demonstrar a importância do legado português
na vida do povo indiano, a saber, em Goa.
Referências
Wagner Pereira
de Souza é licenciado em Letras (Português/Literatura) pela Universidade
Federal de Rondônia/UNIR; Especialista em Coordenação Pedagógica pela Faculdade
Estadual da Lapa/FAEL. Atualmente, professor efetivo de Língua Portuguesa da
Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso/SEDUC MT.
ANTUNES,
Luís Frederico Dias. A vida
social das Colchas e outros bens indo-portugueses: seus usos e valor para lá do
comércio (séculos XVI-XVIII), 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-47142018000100305&script=sci_arttext – acesso em: 04
de agosto de 2020. [site]
ATR
Internacional. Portugueses na Índia -
Fado em Goa - Hora dos Portugueses, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y3cDlVkl4WY&feature=youtu.be – acesso em: 04
de agosto de 2020. [canal]
CONCEITO DE ROUXINOL, 2016. Disponível em: https://conceito.de/rouxinol - acesso em: 04
de agosto de 2020. [site]
FUNDAÇÃO
ORIENTE. S/D – disponível em: http://www.foriente.pt/60/india.htm#.XyodlVRKiCU – acesso em: 04
de agosto de 2020. [site]
MELO, Irlan.
Arte e Educação, o poder da
transformação, 2018 – disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/colunas/irlan-melo-1.540331/arte-e-educa%C3%A7%C3%A3o-o-poder-da-transforma%C3%A7%C3%A3o-1.602945 – acesso em: 04
de agosto de 2020. [site]
MOURA,
Larissa Moura. Qual a importância da arte na
formação cultural e social? – 2018 - disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/13444364#:~:text=A%20arte%20possui%20fundamental%20import%C3%A2ncia,%2C%20cinema%2C%20literatura%2C%20etc. – acesso em: 04
de agosto de 2020. [site]
NEVES, Daniel. Arte e
cultura são dois conceitos importantíssimos e alvos de inúmeras análises por
parte de diferentes áreas do conhecimento humano, 2015. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/arte-cultura – acesso em: 04
de agosto de 2020. [monografia]
NUNES, Cesar.
As Artes e a Formação Cultural, 2018 – disponível em: https://tutores.com.br/blog/as-artes-e-a-formacao-cultural/ - acesso em: 04 de agosto de 2020. [blog]
NEWMAN,
Robert S. Goa: a transformação de uma
região indiana, 2016. Disponível em: file:///C:/Users/pc/Documents/Arte%20Goesa%201.pdf – acesso em: 03
de agosto de 2020. [artigo]
SOUSA, Nalini Elnivo de. Vem
Cantar, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pk-Npp-BP-k – acesso em: 04
de agosto de 2020. [canal]
Boa tarde!
ResponderExcluirPodemos observar com esse texto, a contribuição cultural, não só de Portugal em território indiano, mas a contribuição da cultura de Goa em Portugal, a exemplo, os museus. A preservação da cultura de Goa através da arte, levada por portugueses se torna inegável. Gostaria de saber se existe influência artística de Portugal, em outras colônias ou em outros lugares que passaram, se sim, ocorreram de forma pacífica e perduram até os dias atuais?
Grata, Yasmin Ribeiro de Carvalho
Obrigado, Yasmim, pelo o interesse na temática e também pelo seu comentário e interrogação.
ResponderExcluirCom certeza, há sim a influência artística portuguesa em todos os países que foram colonizados por eles, claro que uns mais e outros menos e isso se dá até mesmo pela relação que Portugal desenvolve com o país colonizado. Por exemplo: a relação de Portugal com a China é bem mais estreita nessa temática do que com o Brasil, porém inegavelmente, muito do que se foi ensinado aqui por eles desde a época dos Jesuítas, perdura. Do mesmo modo com outros países como: Angola, Timor Leste, Guiné-Bissau entre outros. Todavia, seria necessário um estudo mais apurado para levantar dados precisos, mas panoramicamente, somos levados a entender que com a China a relação é mais tênue, o que torna essa influência muito forte até os dias atuais!
Muito obrigada pelo esclarecimento, professor!
ExcluirBoa tarde! Muito legal o seu trabalho. Mas e o inverso, qual a influencia dos chineses na arte portuguesa? Grato, Marlon Barcelos Ferreira
ResponderExcluirOi Marlon, muito obrigado pelo seu interesse na temática e também pelo seu comentário. Não nos restam dúvidas de que com certeza há sim influências chinesas em Portugal. Porém ressalvado a questão de que, como o colonizador está na posição de superior, aquele que impõe, o que determina, dificilmente irá designar glórias ao país colonizado. Um exemplo bem claro disso é o Brasil, se pensarmos: será que o Brasil influenciou Portugal em algo? Eu não tenho dúvidas que sim, mas dificilmente ele dará as honrarias a nós por isso. Mas creio que seria uma outra etapa de estudo também bem interessante.
ExcluirWagner Pereira de Souza
wpereirasouza46@gmail.com